segunda-feira, 2 de abril de 2012

Acima de nós a escuridão nos engoliria. Dentro, o silêncio. Em sua completude não nos levaria a angústia dos que não tem voz, nem à distância ou a incerteza, mas a mútua compreensão dos que não necessitam de palavras. Seríamos apenas o que sabemos ser: dois corpos nus estirados num plano que agarra e não permite o voo. Nossas mãos se encontrariam, não porque quiséssemos, mas porque queriam. E meus olhos não se cegariam no abismo de seus olhos, nem minha boca cederia aos apelos de seus beijos, pois não teríamos face. Seus dedos percorreriam leve e incessantemente cada instante de minha nudez. E tremendo, sem voz, sem medo, você me arrancaria suspiros que viriam do desvendar de meus segredos. Então eu me permitiria navegar sobre seu corpo sem receio da beleza que, cega, antes me ferira. Nesse abandono e reconhecimento ambos seríamos náufragos e mergulharíamos no infinito do desconhecido. Transpassaríamos a fronteira de nossos seres até que se esvaíssem todas as inverdades: o eu se reduziria a tu e o tu a eu. Nossos corpos então dançariam até ascenderem-se aos céus e, quase no limite do mundo, o hálito do véu negro nos revelaria o sublime. Depois, viria a exaustão. Plainaríamos até o alcance do terreno numa quase morte e, no aterrissar, o corpo deixaria de ser essência. Eu me levantaria e cobriria minha nudez e voltando a vida recuperaria meu rosto. Meus olhos me trariam lágrimas, minha boca, sangue. Eu voltaria ao meu ser e se faria a porta que abriria, o ar que eu respiraria, o sol que me queimaria e outros seres que, na solidão, não me acolheriam. Você seria pó. O instante perdido, eterno, esquecido.

3 comentários:

  1. "Nossas mãos se encontrariam, não porque quiséssemos, mas porque queriam."
    Gostei muito muito muito disso, lulu

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  2. ... abrigo da incerteza, o sereno instante. E cessados os suspiros, denunciando cada verdade, palavras sem quererem ser ditas e sem nenhum som para lembrar o antes ou depois, eu em seus braços e você nos meus, sentimos nossos corpos juntos em uma escuridão que nos cobria de leve e se rendemos a uma manha que nunca viria.

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  3. "E meus olhos não se cegariam no abismo de seus olhos, nem minha boca cederia aos apelos de seus beijos, pois não teríamos face."
    Linda (:

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