quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Na selva de pedra

Voltava da escola cabisbaixa, isenta de pensamentos concretos e emoções. Todas as voltas eram assim. Sol escaldante, chão de concreto. Olhava meus pés desejando ter barbatanas, que a calçada fosse um rio e, os carros, peixes. De repente ouvi gritos do outro lado da rua: um casal brigava. Havia policiais em volta deles e um bebê era apertado contra o seio da mãe que berrava, soluçava e arrancava os cabelos. O homem tentava argumentar, a mulher gritava ainda mais. Então, ele decidiu partir para a guerra verbal também. Choveram palavrões e curiosos, que paravam no meio da calçada só para observar. Que tristeza, que decepção! Dia errado eles escolheram, eu pensei. Justo nesse momento de vida que desconfio tanto da raça humana que chego a desejar ter nascido um molusco. Nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhum sinal de vida que não fosse humana, nenhuma mostra de que eu deveria me satisfazer com o que estivesse ao meu redor. O casal gritava, os curiosos observavam. Eu apressava meus passos, desgostosa. E os desgostos passaram a brotar na minha mente, como pipoca estourando na panela. Pensei nas pessoas sempre em busca de mais, de mais, de mais o que? Bens, dinheiro,inutilidades, paixões passageiras, experiências vazias. E me espanto, pois sou uma dessas pessoas! Não queria ser. Digo aos outros que quero sair da sociedade, peregrinar por aí, sem rumo, atrás de um sentido qualquer, de uma liberdade irrestrita. Não vejo sentido algum em permanecer. Algum dia, talvez quando esse casal escandaloso já estiver jazendo sob a terra, eu partirei daqui para sempre.

Tenho que dizer que estou sendo influenciada pelo livro/filme "Na Natureza Selvagem". Que, aliás, todos deveriam ler e assistir.