domingo, 13 de setembro de 2009

Por um pratinho de milho

Já eram quase oito horas da noite e o terminal de ônibus ainda estava lotado. Homens magros e sujos sentados nos bancos cinzentos, fumavam e observavam a jovem desacompanhada de vestido curto. Mulheres com cabelos mal presos, conversavam animadamente sobre o primeiro capítulo da novela. Crianças, com suas mãozinhas pequenas, agarravam-se à suas mães. Velhos sozinhos rabugentos. Mulheres bem vestidas de salto alto e maquiagem. Jovens carregando livros sob os braços. Namorados entreolhando-se de mãos dadas. Em fila, diferentes pessoas pacientemente aguardavam a chegada do transporte público que as levariam para seus destinos. Cada uma delas com sua própria vida, sua rotina e sua história para contar. Sozinha, uma menina de vestido florido comia milho num pratinho de plástico. Sozinha, eu escuta músicas e cantava baixinho enquanto a observava. No meio de tantas pessoas ela havia chamado minha atenção. A ingenuidade no meio do perigo. Levantou-se do banco num pulo e andou em direção a alguém. Era um moça, pensei que deveria ser sua mãe. As duas entraram na fila atrás de mim. Uma menininha mais jovem ainda chegou agarrada à mão de um homem, possivelmente seu pai. A menininha tinha os olhos banhados em lágrimas e olhava para o homem e para o pratinho de milho. Seu rosto estampava o desejo. Baixinho, sussurrou algo para ele. O homem olhou para ela com uma certa seriedade e negou seu pedido. Seus olhinhos imploravam pelo milho da menina com vestido florido. O pai, então, rendeu-se e foi conversar com a moça-mãe. Ela abriu um grande sorriso e pediu para a filha dar um pouco de sua comida para a menininha chorosa. Ela encheu a colher de milho e a menininha abriu a boca. Comeu tudo e sorriu para a outra, que a deu mais uma colher. Fiquei feliz ao ver as duas. A satisfação da pequenina ao mastigar o milho e o orgulho da menina com vestido florido em ser generosa. O engraçado é que elas nunca saberão que eu, silenciosa, estava a observá-las e que, posteriormente, ficariam guardadas para sempre numa história.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

minuto de silêncio.

Palavras já não me dizem mais nada. A corda bamba se rompeu eu perdi meu equilíbrio. Às cegas, vago a procura do nada. Ele não me encontra porque a verdade é que nem mesmo ele eu quero encontrar. O vento sopra sempre contra minha direção. As paredes desabam ao me ver. As flores murcham, os animais imploram por água, a juventude joga tudo pro alto e desiste de viver. A verdade é que ainda vivo, porque não guardo nenhuma expectativa para a morte. Não há mais a esperança na caixa de Pandora.