segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O espetáculo do meu constrangimento

Queria escrever como Kundera mas percebo sua frieza e sem querer não consigo mais. Escrevo jorrando as palavras com ternura, buscando o que não conheço de mim. Antes eu fizesse apenas parte da literatura ou deixasse de me identificar com uma de suas personagens que amam sem amor, que controlam paixões e que se vandalizam para ter o que sentir. Mas vivo. E visto com paciência a máscara que criei, fingindo que suas palavras não me fazem querer ficar assim estática-apática para todo o sempre. No outro dia havia uma cortina tão bonita que nos protegia do sol e em meus braços um travesseiro que com ondas me pedia para continuar sempre a espera, respirando ofegante todas aquelas explosões internas que dizem tudo sem dizer nada. Eu escutei em silêncio e pedi: por favor não diga isso hoje! E no meu estado estático-apático eu sentia que meu corpo não era mais meu e pensava: então faça o que quiser comigo. Depois morri e quando acordei novamente estava só em casa escutando velhas canções que hoje não me fazem mais chorar. Já é tarde, tão tarde e, mesmo sabendo que só há o final, me recordo daquelas palavras: Eu aguentei por amor. E eu te disse: Agora você entende o que eu sinto. Os passáros ao nosso lado também sentiam, eu sabia disso, e as árvores e aquele meio dia cheio de cumplicidade. Mas depois vieram as cortinas e o travesseiro e a dor. E quando escuto sobre finais digo: não importa, hoje só quero me sujar de tinta vermelha e dançar nua no meio da rua. Quero escalar montanhas e soltar balões e pintar gatos brancos de cor de rosa. Eu quero cuspir no chão até que me cuspa inteira e deixe de existir me sendo. Por amor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um dia já fui inteira feita de palavras e lágrimas. Agora não choro mais que não seja de felicidade e não escrevo mais que não seja por compaixão pelas palavras que habitam em mim. Elas me contam sobre saudade, e eu digo a elas que saudade é esperar que a farinha se refaça em grão, como um dia já te disse que Mia Couto me contou. Outro dia me contaram sobre as tardes em que colhia rosas recordações com cheiro de mel e guardava momentos em folhas perdidas. Sobre as noites que Camões surgia, nu, e as mãos tinham medo. Achei bonito pois me disseram assim: naquelas noites, lutávamos para manter estável o que já nascera destruído. Acredito que tenham razão. Agora elas não voltam com muita frequencia, se transformam em nuvens e me tiram o peso de pensar. Assim está tudo bem. Digo e repito repito repito. Está bem porque aprendi a fingir sorrisos, a contar mentiras e a esconder de mim mesma aquilo que eu gostava de chamar de amor. Eu perdi uma parte inteira de mim e foi quase tão fácil quanto acreditar em fadas.