quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Enjoada

Eu estou desesperada. Desesperada, por que não consigo mais encontrar palavras para começar, porque só consigo viver quando me distraio, porque só consigo esquecer quando não me calo. É só tudo parar por um instante que entro em conflitos comigo mesma, que passo a me perguntar o quanto tudo é necessário, que esqueço de que o mundo inteiro não gira em torno só de mim. Cansei de viver para me satisfazer, encontrar meus prazeres e aliviar minhas dores. O mundo parece assim, tão apertado, tão triste. Apesar de que eu gosto da tristeza, mesmo que digam que ela não é boa. Mas, afinal, o que seria da felicidade se não fosse a tristeza? Só não digo que gosto da dor. Não, dela não sou capaz de gostar. Hoje à tardezinha eu perguntei à mim mesma porque eu não podia deixar tudo ficar bem, pois, agora, não há grandes razões que impeçam isso de acontecer. Acontece, acontece que um pedaço de mim teima em não largar o passado. Esse negócio de tentar me convencer não adianta, acho que só adianta para as pessoas que sabem fazer isso direito. Bem, eu não sou uma delas. Eu tento e não dá certo. Parece que tem uma porta de pedra obstruindo a passagem do esquecimento. Talvez seja necessária uma passagem para o esquecimento entrar e fazer esquecer. Mas, enquanto isso, vivo no mundo da distração. Até ficar só. Sabe, gosto de ficar só. Chama-se solitude e me faz tão bem. Ou antes, me fazia. Agora me retornam as mágoas, e elas ficam a retornar e retornar. E, quando menos espero, já estou chorando novamente. Eu gosto de chorar para aliviar a dor, mas não gosto quando sei que é desnecessário e as lágrimas são à toa, por mera lembrança. Se o esquecimento pudesse entrar, eu não choraria mais pelo leite derramado, e acabariam-se as lástimas, os arrependimentos e as dores desnecessárias. Mas se... Se... E não descubro o que é a porta de pedra. Talvez seja o tempo, aí não há nada que eu possa fazer. Mas tudo demora demais e eu canso. Só não desisto porque tenho coisas que não me fazem desistir. E essas coisas não são esperança, nem fé. Não gosto mais da esperança porque passei a vê-la de modo negativo, e sim, isso é um preconceito com as outras esperanças. E fé eu não tenho mesmo, apesar de às vezes achar que deveria. Acho ruim ser descrente demais, mas nunca encontrei nada que me fizesse dizer – eu creio. Um dia me disseram que sou dramática demais. Sou sim. E sentimental também. Às vezes surge meu outro lado e diz – Cara, como você é chata. Sabe, eu concordo.