terça-feira, 21 de dezembro de 2010

À mim e à sujeira da parede.

Me deu vontade de escrever pra você. Posso sair escrevendo por puro êxtase momentâneo? Não quero falar sobre você, sobre mim, sobre nós, sobre nada. Quero falar sobre flores. Explosão de flores. Me conte algum segredo que ainda não sei. Me conte. E te contarei um que ainda não sabe também. Ele tem cheiro de flor, gosto de flor, mas não é flor. É explosão de flores. É mais ou menos assim: você escala uma montanha alta, bem alta, e nunca chega ao topo. Depois desiste e desce, só pra perceber que nunca teve topo. Eu estou parada no meio do caminho, você está parada no meio do caminho. Você vê o topo, você deseja o topo. Mas ele não existe. Triste realidade, não é? Enquanto isso eu colho as florzinhas rasteiras que encontro pelo caminho. Eu vou colhendo, em silêncio, sem nenhum objetivo além do de ter as flores cheirando doce em minhas mãos. As pessoas copiam o perfume das flores, acho engraçado. As pessoas gostam de dizer que são os animais superiores mas copiam tudo dos outros seres, tudo. São os animais mais bobos e sem a menor originalidade, é isso que são pra mim. Mas não vem ao caso. O caso é que você crê tanto tanto tanto tanto ver um topo que não desiste em tentar escalá-lo. Eu vou atrás, sabe? Só por curiosidade mesmo e por prazer também. Quero ver até onde você chega nessa sua busca desenfreada. De repente vem uma mosca e puf, pousa na sua mão. Você tira a mosca, você ri da mosca. Mas olha, os átomos dela ainda estão em suas mãos, e agora? Você é meio homem - meio mosca? Ou então, 99,9999% homem e o que resta - mosca. Não te assusta e nem te incomoda. Me assusta e me incomoda. Você tem mãos de mosca, suas mãos sãos 35% mosca. E eu inventei esse número sim, pois gosto de sair inventando. Sabe eu sempre - odiei - as moscas, mas nunca dei o valor necessário a elas. Parece que, de uma maneira ou de outra, elas sempre estão lá me avisando: Não há um topo na montanha, não há um topo na montanha, não há.. e eu vou lá e mato-as. Mato-as sem a menor dó. Aliás, mato com prazer de matar um ser que me incomoda só por existir. Triste, não é? Triste. E ainda temos a capacidade de nos considerar melhores que alguma coisa, impressionante. Olho pro chão e lá estão minhas flores, sabe o que elas me dizem? Suba a montanha, suba a montanha. No final, eu sempre soube que elas seriam traidoras, mas ignorei esse fato por serem assim... demasiadamente belas. E olho para elas e sabe o que faço? Acolho-as todas em meu coração - todas. Por que? Vá, me pergunte. Porque sou cega e gosto de acolher o belo pelo belo sem ver que há mais escondido. Tudo bem, isso se chama ser bicho-homem. O lado bom de tudo isso é que há amor. Não entendo - com toda sinceridade que há no meu coração - o porquê das pessoas muitas vezes dizerem que o amor é ruim, que o amor dói, que o amor isso, que o amor aquilo. O amor é a única certeza. É a única certeza de.. que há sentido bonito por trás das coisas feias. O que nós fazemos com o amor é que dói, é o ruim, nós nos machucamos e depois dizemos: Ah, pelo menos aprendi e.. Pare de se enganar! Não há topo na montanha. Então beije as moscas, beije como se fosse juntar-se a elas, você está certa, seja meio-mosca. Eu sou meio-flor - estupidamente tosco. Mas verdadeiro. Ame as moscas, ame seu próprio corpo e o chão sujo da rua a ponto de esfregar-se nele até sangrar. A beleza é relativa. Ei, o topo da montanha também é relativo, não é? Sinta-se nua de razões e simplesmente exploda. Vá, tente agora - exploda. Explodir faz bem pra tudo, você se recompõe e alivia a dor que é viver. Eu perdôo. Hoje eu perdôo a explosão. Também perdôo você, as moscas, o chão sujo, as flores e o topo da montanha. Perdôo tudo, menos as mentiras que crio para aliviar minha dor.

domingo, 5 de dezembro de 2010

25 de novembro.

Chovia, chovia, chovia.
Você não deve se lembrar, mas pouco importa.
Um dia a nuvem seca e deixa de explodir-se em contentamentos libertários.
Então, será a minha vez.