segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Digitando sem-pensar

Você acha que sabe tudo, mas você não sabe. Você acha que é humano fazer o que você fez com uma pessoa, mas não é. Você talvez ache que eu não me importo, que eu não penso mais, que eu não quero mais, que eu não preciso mais, é melhor que você ache isso mesmo. Aí digo - Luísa, luísa, pra que complicar mais as coisas? É. Todos pensam que é fácil, só deixe de querer. Mas, sabe, eu estou completamente hipnotizada,  completamente mesmo. E não mãe, eu não preciso de terapia. Talvez eu precise um pouco mais - experimentar. Como posso saber se gosto ou não se não experimentar, não é? Ou talvez, talvez o que eu precise mesmo, talvez o único remédio seja fechar os olhos, deixar um pouco de lado essa coisa que dentro de mim faz tantas cócegas, essa curiosidade engraçada. Esse querer querer querer. Mamãe deve achar que estou louca. Será? Já pensei muito sobre isso. Aliás tudo o que faço é pensar muito, por isso que criam-se essas ideias esquisitas. Um dia desses de madrugada conversava com meu irmão. Essas conversas que cada um tem sua opinião, pra onde vamos depois da morte, sentidos da vida, etcetc. Pensei tanto que se cresceu uma coisa ruim no meu estomâgo, cresceu um medo, um medo terrível de morrer. Achei que ia ficar louca. Mas não se preocupem, eu até gosto um pouco da minha pequena insanidade particular, me faz sentir menos normal. Afinal, qual é a graça de ser normal?


Ps- Algumas coisas que, com urgência, precisam sair de mim.
Ps2- Não estou afim de revisar e esse texto não teve nenhum intuito de ser bonito ou interessente para ninguém.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Trecho de "Água-viva"

"Sinta-se bem. Eu na minha solidão quase vou explodir. Morrer deve ser uma muda explosão interna. O corpo não aguenta mais ser corpo. E se morrer tiver o gosto de comida quando se está com fome? E se morrer for um prazer, egoísta prazer?"


Clarice Lispector, parece que eu só posso encontrar meu alívio em suas palavras.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

antíteses

É um sonho tão intenso que me faz querer chorar. É tão distante, tão errado, tão impossível, tão tão tão macio. Uma esperança vaga, quase que desesperançosa, mas ainda assim esperança. Uma dor tão dolorida que eu não desejo que passe. Sinto uma infelicidade extrema que, por tão exagerada, torna-se feliz. Ou talvez seja ao contrário. Existe aí uma dúvida engraçada, que por ser assim cômica, se veste de certeza. Uma certeza duvidosa. Eu gosto da dor de saber estar vivendo uma vida de sonhos. Eu aceito-não aceito-aceito-não aceito essa ilusão. Porém, às vezes ela se torna a saída, o caminho mais fácil. A ilusão é macia macia macia. Me faz tão bem. De repente, eu volto à realidade. Quando isso acontece dói muito e essa dor é ruim. Sentir - eu preciso tanto disso. Preciso sentir, experimentar, provar, matar a fome rídicula que é o desejo. Vocês estão me deixando louca. Ou eu sozinha estou enlouquecendo. Para mim, não existe mais esse negócio chamado sentido.

sábado, 28 de novembro de 2009

Títulos às vezes são desnecessários

Descobri que o ódio é uma pontada estranha no peito que me faz querer vomitar. O ódio é igual o amor sendo exatamente o seu oposto. Meu ódio é sentir vontade que uma pessoa morra por eu amá-la demais. É a raiva que tenho de mim mesma, porém expressada em outro. Numa manhã qualquer onde nada poderia estar errado ele volta a aparecer. Deve ser um presente seu para mim, porém sem embrulho ou enfeite algum. Me faz querer gritar. GRITAR. Ao invés disso me isolo. É sempre melhor se isolar do que descontar nos outros. Eu quero matar você. Você pode entender isso? Descobri que o ódio é uma consequência da esperança. Ou a esperança em si já é algo odioso. Eu odeio sentir esperança, pois sei que se o que eu espero não acontecer isso vai, de uma forma ou de outra, me machucar. Digo que odeio você, odeio como você pensa saber tudo, inclusive sobre sentimentos que não são seus, sempre sendo uma pessoa madura demais, evitando as consequências, os erros. Mas a verdade é que não odeio nada disso, meu ódio está relacionado com o modo que você me afeta, com a minha necessidade estranha e louca de estar com você. Meu ódio é simplesmente a insatisfação. É a triste falta de reciprocidade. É saber que o que eu quero não vai acontecer. Porém, quando percebo o quanto você é importante e o que está acabando não é somente uma falsa esperança, um falso gostar, mas algo muito maior, só tenho vontade de chorar e dizer- me desculpe por favor. Eu não escolhi criar esse sentimento, ele se criou sozinho dentro de mim e parece que não quer parar de crescer. É triste demais admitir, mas ele é mais profundo do que se possa imaginar.

Uma coisa chamada tédio

Era uma vez uma bolha vagando aleatoriamente pelo nada. O nada não existe, então a bolha não existe. Se a bolha não existe eu não existo porque fiz ela existir. A bolha não é um nada, a bolha é alguma coisa (mesmo que seja da minha cabeça) vagando pelo nada que existe-não existe. póin póin póin

ps- pensamentos estranhos que vêm do nada e, incrivelmente, sempre no meio da aula de química.

sábado, 14 de novembro de 2009

Pensamento perdido

Hoje, ao ver uma foto não tão antiga assim, me surpreendi ao perceber algo que nunca antes havia compreendido. Baseando-me no tempo tão curto e nas mudanças tão intensas, reparei que não sei mais quem sou, ou, provavelmente, nunca soube. Hoje pelo menos sei que não sei, o que, aparentemente, é um avanço. Acho que só agora pude entender claramente o significado daquela frase de G. K. Chesterton: "O homem não tem alternativa, exceto entre ser influenciado pelo pensamento refletido ou pelo pensamento irrefletido". O homem não é o homem, o homem são os outros. Eu não sou eu, sou um conjunto de coisas. Um conjunto de ideias, sentimentos, reflexões e opiniões, falta de reflexões e não opiniões. E todo esse conjunto de coisas fazem eu ser eu agora, nesse instante. O instante já passou, não sou mais aquele eu, agora já sou outro que daqui a pouco vai deixar de ser o que era. E assim vai continuar sendo pra sempre, até eu morrer, sem nunca ter conseguido responder a pergunta - Quem sou eu?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

É cada vez mais difícil entender o que se passa dentro de mim. Os sentimentos tornam-se cada vez mais profundos. Confesso que tenho medo deles.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Refúgio

Abriu os olhos muito lentamente, e, após alguns segundos, percebeu que não sabia onde estava. A primeira coisa que percebeu é que estava deitada sobre algo duro e frio, mas estava escuro demais para distinguir o que era. Tentou levantar-se, mas em vão, seu corpo pesava muito e nenhum músculo queria se mover. Não podia ouvir um único ruído. Infeliz, pensou que isso devia ser a morte. Procurou lembrar-se como tinha morrido, não conseguiu. Ouviu passos lentos e arrastados vindo de algum lugar. Quis gritar por ajuda, mas nem mesmo sussuros saíam de sua garganta. Ela pode sentir os passos cada vez mais próximos, e então, percebeu, era um velho senhor. Agachou-se a seu lado. Ela tentou dizer algo, porém, mais uma vez, não foi capaz. Ele examinou-a de cima a baixo, e, por fim, murmurou:

- Você é jovem demais. O que faz aqui?

Como não obteve respostas, suspirou.

- Agora você já pode me responder, tente.

Ela sentiu algo estranho entrar pelos seus pulmões, não era ar, não era nada parecido com o que ela havia experimentado antes. Então percebeu que não tinha respirado desde que havia aberto os olhos. Quanto tempo haveria se passado? Não sabia.

- Minha querida, aqui não há tempo. - o velho disse calmamente.

Surpreendeu-se com a resposta do velho. Como o será que ele sabia o que estava pensando?

- Não se surpreenda, eu também não estou falando. Você está escutando o que há dentro de mim.

Ela não pode entender muito bem, mas disse pensando:

- Aonde estamos?

- Acho que não-estamos. Isso é um lugar vazio, um nada. Apesar de, primeiramente, parecer que seja alguma coisa. Mas o tempo inexiste, então não tenho como saber se alguma vez já parei para pensar sobre isso. Não sei nem se estou aqui falando com você.

Ele a havia deixado completamente confusa.

- Bem, então o que estou fazendo aqui? Porque vim parar no nada?

- Eu sei porque estou aqui, mas só você poderá saber o seu motivo. Você pode não se lembrar agora, mas, provavelmente, desistiu de viver a realidade. Optou pela ilusão, pelo sonho. Optou pelo nada. Bem, aqui está seu nada.

- Não me lembro.. mas não gosto daqui, preciso achar um jeito de voltar.

- Eu nunca consegui voltar, mas talvez não seja o mesmo para você. Afinal, tudo isso faz parte de sua consciência. Assim como o que você julgava ser realidade.

Subitamente ela se lembrou, não podia mais sentir nada em sua antiga realidade. O sofrimento era tão grande que à destruiu. O que sobrou foi lentamente sendo consumido pela apatia. Ela estivera, nos últimos tempos, vivendo uma ilusão. Seus sonhos eram ilusões, assim como suas esperanças passadas. Estivera, sozinha e silenciosa, esperando a morte que demoraria a chegar.

- Então você decidiu?

- Sim, prefiro ficar aqui. - e fechou os olhos novamente.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

válvula de escape

Depois da caminhada mais surpreendentemente cômica para um dia tão sofrido, larguei minhas coisas no sofá e voltei para a agradável companhia de meu caro amigo - o portão verde.
Sentei-me no chão de piso vermelho com mais conforto do que se estivesse sentado na mais macia poltrona de veludo. Os pensamentos rondaram minha mente e, por incrível que o pareça, diferente de todos os outros anteriores, estes eram plenamente agradáveis.
No mesmo instante, Cocada, minha beagle gorducha, sentou-se ao meu lado. Obedientemente esperou algum agrado de minha parte, e o fiz, afinal, ela merecia até muito mais que isso, pois ela que havia sido o motivo de minhas escandalosas, porém sinceras, gargalhadas no meio da rua. O motivo? Não vou contar-lhe, pois você se assustará com minha tamanha insensibilidade. Bom, penso que em alguns momentos é necessário simplesmente jogar o sofrimento para o alto e me divertir com ele, assim, pelo menos nos momentos ruins, sinto prazer em viver.
O vento gelado salpicado com finíssimas gotas de água bateu em meu rosto e isto conseguiu me alegrar ainda mais. Sozinha, me diverti com as luzes e sombras na parede e, apesar de agora ter me lembrado de você por causa disso, não o fiz. Ri ao ver a mulher do labrador tentando ficar em pé, de tão forte e desengonçado que era o animal a puxando. Cocada latiu em meus ouvidos. Por que seus latidos têm de ser tão desafinados e esganiçados? Bom, eu devo ser assim como ela quando canto, então não posso reclamar.
Um velho passou segurando um guarda-chuva e deus duas rápidas olhadelas para as figuras interessantemente felizes que se encontravam atrás do portão. Não há como estar feliz em um dia tão frio, nublado e escuro, ainda mais se você estiver desagasalhado, ouvindo terríveis latidos, sentado no chão duro e ter acabado de terminar um relacionamento (não que ele soubesse desse detalhe). Eu estava; e sorri para ele. Isso o fez caminhar mais depressa. Então um jovem passou e olhou para mim, mas seu olhar não me agradou nenhum pouco. Curiosamente, gosto mais dos velhinhos do que de certos jovens com seus hormônios à flor da pele. Obviamente que não estou generalizando.
Minha alegria momentânea de viver era tão grande que me parecia quase concreta, palpável. Estendi minha mão para tentar alcançá-la, mas ela era mais rápida que o vento e, junto dele, voou entre meus dedos. Apoiei, então, minha mão em meu braço esquerdo e o acariciei. Pude sentir prazer com meu próprio carinho. Naquele momento, pensei que poderia escrever algo sobre isso, ou melhor, eu necessitava disso. Em minha cabeça, as palavras giravam. Brinquei com elas. Acho que não existe nada mais lindo, temeroso e auto-suficiente do que as palavras. Utilizo delas justamente para me expressar sobre elas. E quando elas passam a gostar de você, tornam-se dóceis e ainda mais belas. Penso que as palavras eram as melhores amigas de Clarice Lispector. Respirei fundo àquela hora. Me senti perfeitamente plena de tudo. Respirei o vento com suas geladas gotículas de água, respirei meus pensamentos, minha alegria e as palavras. Uma delas prevalecia as outras - macia. Algodão doce, eu me lembrei. Ou talvez, nuvens. E todas as outras se tornaram macias como ela.
Subitamente, um vira lata misto de creme e caramelo surgiu ao meu lado, atrás do portão. Preparei meus ouvidos para os latidos da minha cachorrinha. Ao invés disso, ela ganiu e começou a abanar o rabo. Os dois tiveram um rápido e único momento. Cheiraram-se os focinhos um do outro. Ele foi embora, então ela latiu. "Calma - eu disse para ela- ele vai voltar." Nesse momento ri da ironia de minhas palavras. Você surgiu de novo em minha mente e meu pequeno momento agradável do dia se foi. Tudo ficou escuro de repente. O frio alegre tornou-se o habitual frio triste. Novamente, o sofrimento surgiu e, decidida, eu voltei para casa. Restaram-se as lágrimas e um único pensamento - Impossível ficar melhor sem você.

domingo, 18 de outubro de 2009

Um completo exagero

Meus sentimentos já não são mais sentimentos – são moscas. Nojentas, repulsivas, repugnantes, nauseantes, enjoativas, nauseabundas, horripilantes, desagradáveis, indecorosas, feias, indecentes, asquerosas, arrepiantes, horrendas, indignas, estorvas e inconvenientes moscas peludas. Dão voltas e voltas e assim voam dentro de mim. E não se cansam. Giram porque são confusas! Nunca estabelecem-se em um só lugar. Pior! Preferem pousar nos mais lúgubres cantos e só depois vir zumbir em meus ouvidos cansados. Então suplico por um pouco de paz. Mas as malditas nem pensam em prestar atenção no que digo. Suas estranhas patinhas peludas pousam sobre onde antes você tinha beijado e só o que peço aos Céus é paciência para suportar a penosa dor. Dor muito bem merecida pois em troca de minhas errantes ideias (embora não compartilhadas) recebi sua cruel indiferença. Mas penso que talvez eu não o mereça mesmo. Talvez meu destino seja ser deixada de lado. Às moscas.

sábado, 17 de outubro de 2009

O Cafeeiro

No terraço de uma pequena casa de esquina na zona norte de São Paulo, posso avistar um cafeeiro de quase quatro metros de altura. Pequeninos grãos vermelhos escondem-se entre grandes folhas verde-acinzentadas. Seus galhos ultrapassam os limites do portão cinzento e na calçada suja jazem brancas flores perfumadas. Um homem velho vestindo um suéter azul marinho caminha sobre aquelas flores e atravessa o portão. Então foge de minha visão, pois o cafeeiro o protege de meus olhos curiosos. Quase anoitecendo, alguém derruba um grande pote de tinta laranja-avermelhada sobre o céu azul anil. Ouço um tilintar de chaves e passos curtos e lentos guiam o velho homem para longe da segurança de seu amigo cafeeiro. Olha em sua volta, mas acho que não consegue me ver. Agora posso observá-lo mais claramente. Me pergunto se em algum lugar de seu subconsciente ele sabe que estou tão próximo dele e que seus pensamentos gritam dentro de mim. Seu rosto aparenta os rastros de um passado que não quer esquecer. Ele está cansado. Digo mais uma vez à ele que a garota já sabe muito bem se virar sozinha. Ela não precisa mais de você, eu sussurro lá dentro de seu pensamento-sentimento. Hoje ele resolve me escutar, suspira e se volta para o portão. Não há motivos fortes o suficiente para que saia de casa àquela hora, afinal, já está idoso demais para enfrentar o perigo da noite. Novamente, fico só com o cafeeiro. Passam-se carros, ônibus, motos e adolescentes agitados com seus hormônios à flor da pele. Passam-se mulheres apressadas carregando sacolas de plástico abarrotadas de compras. Passa uma menininha desajeitada guiando um enorme Golden Retriever creme. Nenhum deles percebe que estou ali. A menininha distraída ouvindo música por pouco não esbarra em mim. O cão parece perceber e vira-se para me olhar. Sorrio para ele. No conforto de sua casa, o velho escuta no noticiário que no dia seguinte mais uma frente fria vinda do sul chegará à cidade. Ele resmunga sozinho e, cabisbaixo, percebe que não importa o que ouvisse em relação ao tempo estaria resmungando. Seus pensamentos voltam-se para a garota e eu, numa tentativa frustrada, tento tirá-la de sua mente. “Eu sei.. sei que ela já tem mais de vinte anos mas ainda acho que preciso protegê-la, acho que vou telefoná-la. Mas.. pensando bem, da última vez que fiz isso ela replicou nervosa que estava muito bem obrigada e que eu não deveria mais me preocupar. Ai que menina mais ingrata à tudo que já fiz para ela, não quer nem mais saber como anda seu velho avô!” Seus pensamentos berram dentro de mim. Depois tudo se acalma. Sinto um gosto amargo bem no fundinho da alma, então deduzo que, novamente, ele teria tomado um comprimido para dormir. Dentro de mim só resta-se um silêncio sepulcral. Meus olhos fecham-se. Então, na calçada coberta de flores sob os galhos do cafeeiro, eu adormeço. Subitamente o velho acorda, seu moletom puído de dormir está molhado. Teria ele chorado durante a noite? Não sabia. Subitamente o forte perfume das flores de café faz meu nariz coçar e eu também acordo. Sinto a antiga sensação de que tinha acabado de fechar os olhos e, aqui estou eu, acordado novamente. O silêncio agora realmente reina. As luzes de toda a vizinhança já estão apagadas. Com certeza já é madrugada. Dois gatos reclamões miam sentados no muro da vizinha. Um deles possui um só olho. Ele me vê e seu olhar penetra bem no fundo da minha alma. Sinto uma dor muito forte, quando me deparo com a imagem da menininha pequena, balançando-se sob os galhos de uma mangueira. Apesar da escuridão, o céu novamente clareia-se dentro de mim. Surgem flores amarelas, brancas, azuis, vermelhas. O sol sorri para um moço que empurra a menininha no balanço. O perfume das flores de café torna-se mais doce, bolo de chocolate, penso comigo mesmo. Uma moça surge sorrindo e convida o moço e a menina para o chá da tarde. Em sua cama sob os lençóis, o velho relembra do sonho. Se pergunta se foi mesmo um sonho ou só um pensamento. Acha engraçado ter sonhado com uma lembrança. Uma hora se passa e ele não consegue voltar a dormir. Os primeiros raios de sol surgem sob a vidraça da janela, então decide que já deve ser hora de coar seu café. Sentado sozinho na mesa da cozinha em companhia das paredes frias, ele pensa sobre o que vai fazer em seu dia. Não muita coisa diferente do que a usual, pensa. Visitar a mulher no hospital, podar os galhos do pé de café, talvez mais tarde telefonar para a neta.. Interessante como há uns anos atrás pensava em sair do país, ter uma aventura, viver sozinho e livre de responsabilidades e hoje, após três anos vivendo só, acha que não seria mais capaz.. Eu observo as nuvens sendo carregadas pelo vento voando cada vez mais depressa, como o tempo. Sinto pena do velho. Pena por saber que o cafeeiro e eu somos suas únicas companhias e por saber também que a vida não guarda muito mais para ele. A tão amada juventude já passou e ele sabe que hoje só está colhendo os últimos frutos do que plantou há muito tempo. Os dias passam cada vez mais depressa, todos muito semelhantes, criando a rotina. E cada vez que um acaba o final anuncia que está cada vez mais perto. Mastigando devagar o último pedacinho do pão com manteiga, o velho suspira com as tristes constatações que acabo de apresentá-lo. Lava a louça, troca o moletom pelo suéter azul marinho, calça seus sapatos, diz bom dia ao cafeeiro e, esquecendo-se do que acabo de lhe dizer, começa mais um dia que, cedo, já vai acabar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

desabafo

Certas vezes, meus olhos involuntariamente entregam o jogo e enchem-se de lágrimas. São nesses momentos em que eu rio da minha própria incapacidade de esconder meus sentimentos, por menores que eles sejam. Interessante uma pessoa ser sádica consigo mesma.

domingo, 13 de setembro de 2009

Por um pratinho de milho

Já eram quase oito horas da noite e o terminal de ônibus ainda estava lotado. Homens magros e sujos sentados nos bancos cinzentos, fumavam e observavam a jovem desacompanhada de vestido curto. Mulheres com cabelos mal presos, conversavam animadamente sobre o primeiro capítulo da novela. Crianças, com suas mãozinhas pequenas, agarravam-se à suas mães. Velhos sozinhos rabugentos. Mulheres bem vestidas de salto alto e maquiagem. Jovens carregando livros sob os braços. Namorados entreolhando-se de mãos dadas. Em fila, diferentes pessoas pacientemente aguardavam a chegada do transporte público que as levariam para seus destinos. Cada uma delas com sua própria vida, sua rotina e sua história para contar. Sozinha, uma menina de vestido florido comia milho num pratinho de plástico. Sozinha, eu escuta músicas e cantava baixinho enquanto a observava. No meio de tantas pessoas ela havia chamado minha atenção. A ingenuidade no meio do perigo. Levantou-se do banco num pulo e andou em direção a alguém. Era um moça, pensei que deveria ser sua mãe. As duas entraram na fila atrás de mim. Uma menininha mais jovem ainda chegou agarrada à mão de um homem, possivelmente seu pai. A menininha tinha os olhos banhados em lágrimas e olhava para o homem e para o pratinho de milho. Seu rosto estampava o desejo. Baixinho, sussurrou algo para ele. O homem olhou para ela com uma certa seriedade e negou seu pedido. Seus olhinhos imploravam pelo milho da menina com vestido florido. O pai, então, rendeu-se e foi conversar com a moça-mãe. Ela abriu um grande sorriso e pediu para a filha dar um pouco de sua comida para a menininha chorosa. Ela encheu a colher de milho e a menininha abriu a boca. Comeu tudo e sorriu para a outra, que a deu mais uma colher. Fiquei feliz ao ver as duas. A satisfação da pequenina ao mastigar o milho e o orgulho da menina com vestido florido em ser generosa. O engraçado é que elas nunca saberão que eu, silenciosa, estava a observá-las e que, posteriormente, ficariam guardadas para sempre numa história.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

minuto de silêncio.

Palavras já não me dizem mais nada. A corda bamba se rompeu eu perdi meu equilíbrio. Às cegas, vago a procura do nada. Ele não me encontra porque a verdade é que nem mesmo ele eu quero encontrar. O vento sopra sempre contra minha direção. As paredes desabam ao me ver. As flores murcham, os animais imploram por água, a juventude joga tudo pro alto e desiste de viver. A verdade é que ainda vivo, porque não guardo nenhuma expectativa para a morte. Não há mais a esperança na caixa de Pandora.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

pensando..

"Disseque suas motivações mais profundamente! Achará que jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são autodirigidas, todo o serviço é auto-serviço, todo o amor é amor-próprio - As palavras de Nietzsche assomaram mais rapidamente, e ele prosseguiu célere. - Parece surpreso com esse comentário? Talvez esteja pensando naqueles que ama. Cave mais profundamente e descobrirá que não ama a eles: ama sim as sensações agradáveis que tal amor produz em você! Ama o desejo, não o desejado. (...)" (Quando Nietzsche Chorou - Irnvin D. Yalon)

Até que ponto, todos nós, seres humanos, somos assim tão egoístas?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Início de uma nova fase

Ela estava vivendo e deixando as coisas acontecerem devagar, dando tempo ao tempo. Não gostava de mentir e tampouco sabia fazer isso direito. Mas, não por mal, acaba fazendo. E, pior, acaba fazendo isso com si própria. Um aperto no peito surgia em algumas situações assim como o insistente pensamento que a impedia de ser feliz: "Um novo começo traz um novo final." Sabia disso muito bem, até melhor do que deveria. Era uma pessoa sentimental e sonhadora sim, mas conseguia ser mais racional do que muitos quando achava que isso era o certo a fazer. Após tantos meses sabia que mudanças viriam a acontecer mas, por vezes, confundia as reais mudanças com as que criava em sua sofrida imaginação. Até que ponto aguentaria certos aspectos que, gradualmente, a machucavam? Almejava ter uma balança em que pudesse colocar, de um lado, o que a fazia bem e, do outro, o que a fazia mal. Ao final, descobriria qual dos dois estava pesando mais em sua consciência. Mas não a tinha, então só lhe restavam duas opções. Ou passar horas pensando e, possivelmente, não chegar a lugar algum, ou esperar até uma força maior tomar conta de si e declarar a decisão tomada. Por enquanto, ainda não havia decisão alguma a tomar. Enquanto isso, avaliaria seu próprio comportamento e esperaria as respostas que viriam do mesmo. O tempo nunca para e, pacientemente, ela esperava que ele estivesse a seu favor.

Um conto

Em busca do frio, do silêncio, do escuro e da solidão, me encontro em frente ao portão verde que me prende à rotineira realidade. Já é quase meia noite e não posso ver se há lua no céu. Na rua, luzes amarelo-avermelhadas se tornam provas de que ainda não fui para a cama dormir. Um girar de chaves e um passo a mais e me exporia ao perigo, mas hoje eu nem sequer penso em procurá-lo. Sento no chão de azulejos vermelhos e encaro o portão e o mundo lá fora. Não consigo encontrar a escuridão que procuro tampouco o silêncio. A cidade nunca dorme. Apesar disso encontro o frio, ou ele me encontra. O vento gelado tenta acariciar minha pele protegida pelo grosso casaco de lã, porém, só alcança meus sofridos pés descalços. Ele assovia para mim e, por um instante, tenho a esperança de que sejam as respostas que busco, entretanto, os assovios não passam de lúgubres e repetitivas perguntas. O vento se adentra em minha cabeça e embaralha todas elas, como num carrossel elas giram sem parar mas, diferente disso, se descontrolam e passam a ser expelidas de lá. Por que não quero mais ficar aqui e me sinto como se não mais fizesse parte desse mundo? Por que necessito de constantes mudanças? Eu quero tanto ficar só, busco desesperadamente minha solitude, mas ao mesmo tempo, quero companhia e carinho. E em resposta a essa triste constatação, o vento faz lágrimas brotarem e caírem de meus olhos. Meu rosto queima. Tento, em vão, secá-las com a manga de meu casaco, elas não desistem de cair e meu rosto arde ainda mais. Incessantes tremores percorrem meu corpo e o turbilhão de perguntas faz minha cabeça desejar transformar-se em uma bomba só para ter o prazer de explodir. Sinto uma intensa vontade de torturar uma por uma as perguntas que tanto me torturam e, descubro tardiamente, que o vento é meu inimigo e não quer me trazer as respostas. Meu rosto continua a queimar e meu corpo a tremer de frio. Como posso, ao mesmo tempo, querer estar sozinha e acompanhada? Como é difícil me satisfazer. Sempre estou à beira de um precipício, perdida entre antagônicas ideias e decisões que nunca vou tomar. Dois gatos passam pelo meu portão, um de cada vez. O primeiro dá um salto e entra na casa da vizinha. O segundo mais cauteloso, para, a fim de me observar. Por um instante me esqueço de tudo e tento chamá-lo para mais perto de mim, porém, assim como o primeiro, dá um salto e me abandona. Novamente só com o vento. Imediatamente a incontrolável necessidade de fugir apodera-se de cada centímetro do meu corpo. Como eu queria ser livre como um gato, solitária, vagabunda, dona de minha liberdade e, mesmo assim, receber carinho e ser amada quando me desse vontade. Não dá para se ter tudo, um pensamento mais racional replica. Meu corpo pede meu tão próximo lar aquecido e meus pés sussurram reclamações sobre o vento e me imploram para voltar. Por mais alguns segundos aprecio a infame companhia do vento, então o abandono. Entro em casa e esquento café na maior xícara que encontro. Bebo rapidamente e sinto minha língua queimar. As perguntas não se vão com o vento, mas tornam a esconder-se nos cantos obscuros de minha mente onde não há carrosséis. Assim, desperto novamente e volto a minha realidade vazia. Sem perguntas nem respostas.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

só mais uma reflexão.

"Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo."

Clarice Lispector

por favor,


Me traga minha natureza, minhas montanhas, meu vento gelado, minha estante abarrotada de diversos livros, edredons e moletons, uma xícara gigante de café com chantilly e minha SOLIDÃO. Quando estiver tudo pronto, me avise, aí então poderei descobrir o que é a minha liberdade.

terça-feira, 21 de julho de 2009

segredo

Sem avisar, ele queima
Sem avisar, ele vai embora
É uma eterna busca por respostas,
entre a tentativa frustrante de acabar
e a vontade incessante de ter mais.
A questão não é - por que eu?
Mas sim - por que agora?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

medos

Eu tenho medo de me arrepender, de fazer as escolhas erradas, de não saber me impor diante de situações difíceis. Eu tenho medo de sofrer sem motivo, medo de mudar, medo de crescer. Eu tenho medo do futuro, do mistério, do desconhecido. Tenho medo de não agradar as pessoas, de falar coisas erradas, de fazer alguém chorar. E, principalmente, eu tenho medo das palavras.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

vocêvocêvocê.

Estou caminhando por lugares errados e não hesitando em mudar o rumo. Nunca imaginei que me mudaria para alguém e não estou mudando, mas certas ações suas acabaram mudando certos pensamentos meus. Tudo está caminhando depressa demais, o tempo passa voando, horas se tornam segundos. Minha mente está se focando em coisas que deveriam ser deixadas de lado e, em resposta a seu comportamento, o meu próprio me espanta. Sei que digo certas coisas que não deveria dizer e me deixo levar por certos caminhos que não deveria deixar, mas não quero mudar tudo isso, não quero que passe. Talvez, involuntariamente, eu esteja caminhando para a beira de um precipício, mas a estrada é bonita demais para me fazer parar. (Just looking for some answers, in a world answers are none of them at all - NeverShoutNever)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Papai

Meu pai é a pessoa que mais amo nessa vida, talvez empatado com meu irmão, e eu sempre soube disso, mas hoje decidi que posso escrever com todas as palavras, sem dúvidas ou incertezas. Não tem essa de: "Quem você ama mais, sua mãe ou seu pai?" Amo ambos igualmente como filha, mas com relação ao meu pai há um amor a mais, um amor de eterna admiração.
Desde bem pequena, foi meu pai que sempre me encorajou a seguir em frente e enfrentar meus medos, me ensinou umas vinte vezes como se formava um arco-íris (porque sempre fui muito esquecida), me levou ao cinema pela primeira vez e teve a paciência de assitir ao mesmo filme mais duas vezes pelos meus pedidos, me ensinou a enfrentar a dor (e continua me ensinando até hoje). E hoje me apóia a sempre seguir todos os meus sonhos (por mais impossívei que eles sejam), me ajuda a ver o que é certo e o que é errado, me deixa livre para aprender pelos meus próprios erros, tem a paciência de me ensinar a mesma matéria milhares de vezes até eu aprender tudo, é a pessoa mais compreensiva, entende meus sofrimentos sem encher minha cabeça de perguntas, sempre sabe quando eu quero conversar ou só preciso de um abraço como consolo, entende quando a tristeza vem até mim sem nenhum motivo aparente e tenta me animar. Meu pai sempre me mimou quando podia, mas sempre soube dizer não, sempre teve firmeza sendo a pessoa mais doce do mundo, é atualizado em todos os assuntos e sempre sabe me responder tudo. Desde bem pequenininha, pensava, sorrindo, que quando crescesse seria igual ao meu pai. Um homem que, como todos, possui seus defeitos, mas não deixa de ser um herói para mim. Sim, eu sei que é clichê, mas o papai é meu grande herói e será para sempre no meu coração.

domingo, 5 de julho de 2009

pequenino tsuru.

Hoje insisto em dizer a mim mesma que nada acabou ainda. Esse sofrimento bobo mas talvez invitável que eu sinto agora não é sinal de que o fim está por perto. Amanhã será outro dia e tudo vai se resolver, aí vou enxergar como estava sendo tolinha e que nada mudou.

semtítulo.

De repente o tempo mudou, de repente tudo que fazia sentido perdeu o sentido. De repente tudo o que eu podia sentir era o frio. E à tudo o que parecia normal havia uma dúvida escondida. Tudo se resumia em porquês. Eu não compreendia mais nada que pudesse fazer parte da minha rotina, mas não queria fugir dela. Eu queria, simplesmente, compreender, ou só compreender porque queria tanto compreender. Era como se os ponteiros dos relógios começassem a girar no sentido anti-horário, como se o inverno se tornasse a estação mais quente do ano. Tudo estava desabando, voltando a se recompor e desabando de novo. Tudo transformava-se radicalmente. E o tempo? Não havia mais tempo. Ele estava descontrolado. Os momentos passavam rápido e devagar demais. Era uma bola de gude girando e girando, que parava de girar sem que algo a parasse e voltava a girar sem que alguém fizesse força para que continuasse. Era complexo e frio. Exteriormente nada tinha mudado, o frio estava dentro de mim e me perturbava. Não havia motivos para ele ter entrado e se instalado aqui, assim como não havia motivos para a bolinha voltar a girar. De repente tudo era tarde demais, mas tudo era cedo demais. Era angustiante, terrivelmente angustiante. Uma mistura de querer mais que tudo descobrir as respostas, mas ao mesmo tempo permanecer na ingenuidade. Uma mistura de querer romper as barreiras, mudar tudo radicalmente e permanecer em silêncio. Uma luta inexistente entre coisas completamente antagônicas. Mas o mais angustiante era não saber transformar tudo em palavras. Não havia palavras naquele frio.

terça-feira, 30 de junho de 2009

não espero que concordem.

Quando somos criancinhas e o que sabemos sobre o mundo é que temos papai e mamãe que cuidam da gente, obviamente somos enganados facilmente. Para nós, a realidade costuma ser nossa família, brincar, ir à escola e nada mais. Então, quando pessoas queridas em que confiamos nos dizem que o coelho da páscoa é que traz chocolate, nós acreditamos. Quando dizem que a fada dos dentes nos deixou moedas, é porque o que ela faz é dar dinheiro em troca deles. E quando nos contam que foi papai noel que nos trouxe presentes em um trenó voador guiado por renas, por que duvidaríamos? Um dia, então, todos nós crescemos, passamos a nos preocupar com outras coisas que não são brinquedos e presentes e percebemos que a realidade é muito maior do que poderíamos imaginar. Descobrimos que a fadinha, o coelho e o papai noel só eram brincadeiras que nossos pais faziam conosco e isso passa a deixar de ter importância. Começamos a pensar em problemas maiores e muitos de nós passam a se perguntar: "Qual o sentido da minha vida? Qual o meu objetivo? Para onde vou após a morte?". É nesse momento que surge Deus, quando me refiro a uma sociedade monoteísta, obviamente. As pessoas a nossa volta nos explicam que Ele criou tudo, que Ele é quem decidirá o que acontecerá conosco nessa vida e após nossa morte. E é nesse momento em que eu me pergunto - "Como você pode afirmar tal fato com tanta certeza?" Vou fazer uma comparação um tanto absurda para muita gente, mas bem simples para mim. Desde o começo da humanidade, o homem sempre buscou respostas, e quando não as obtinha criava uma explicação, na grande maioria das vezes, divina para ela. Na Roma e Grécia antiga e na mitologia nórdica existiam deuses, cada um responsável por as coisas serem como eram. Existia Thor, o deus do trovão, quando trovejava e caía uma tempestade era ele que passeava com uma carruagem pelos céus e ocasionavam o barulho, não as descargas elétricas provocadas pelo encontro de nuvens. Quando os índios não podiam explicar os diversos fenômenos da natureza culpavam deuses que acreditavam serem reais. Quando todos nós, inocentes crianças, acreditávamos que Papai Noel era real, é porque não possuímos uma explicação mais razóavel para aqueles presentes terem surgido debaixo da árvore na noite de Natal. Então, quando pessoas jovens e adultas acreditam em um Deus, será que não estão se enganando? Obviamente todas as crentes diriam que não sem ao menos pensar. Mas vamos pensar, se voltássemos no tempo e explicássemos cientificamente o motivo da existência de raios e trovões às pessoas que acreditavam em Thor, elas ririam ou se espantariam, nos chamando de descrentes. Se disséssemos à alguns grupos índigenas a explicação científica para os fenômenos naturais ou se revelássemos às crianças pequenas que os presentes vêm, na realidade, do dinheiro de seus pais, ambos negariam. Deus para mim é como Papai Noel. Não sabemos para onde vamos, mas Deus sabe. Não sabemos da onde vêm nossos presentes, mas Papai Noel costumava saber. Temos que ser bons para conseguirmos ir para um "Paraíso" após a morte, assim como tínhamos que ser bons para Papai Noel nos trazer presentes. Como não temos respostas para nossas perguntas mais complexas e que talvez nunca tenham melhores explicações, culpamos algo misterioso, irreal, invísivel e inimaginável. Todas essas coisas criadas pelo homem a milhares e milhares de anos, que são plantadas na nossa cabeça desde que nascemos e nos fazem acreditar. Bom, se eu não tenho uma prova concreta de que de fato existe um Deus, não vou acreditar. Assim como se não posso ver um fantasma, não tente me fazer acreditar que existem espíritos vagando por aqui. E tudo isso eu me baseio em experiências passadas, oras, se eu não podia ver o coelhinho me trazendo ovos de chocolate, quem pode provar que ele realmente me trazia?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

fases. fases. fases.

O que acontece quando coisas perfeitas deixam de ser perfeitas? E momentos maravilhosos passam a ser só momentos? Uma pessoa, um dia qualquer, pensou que gostaria de ter alguma mágica que lhe avisasse a hora de mudar. Ela queria saber até que ponto estava se enganando, até que ponto iria aguentar algumas situações. Parar nunca é fácil, nem desistir, abandonar, mudar rotinas etc etc. Tudo isso tem um preço. Viu que se ganhasse alguma coisa, perderia outra. A vida é assim, já tinha se conformado e pronto. Mas ela queria saber exatamente as coisas para qual valiam a pena arriscar-se. Como uma palavra pode estragar para sempre tudo o que poderia ser, como pequenas coisas que, talvez não possam ser mudadas, acabam transformando todo um pensamento. Ela sabia que as pessoas eram diferentes, pensavam diferente e agiam diferente.. afinal, se o mundo fosse todo igual, qual seria a graça? Mas o problema não eram as diferenças e sim as mudanças. Quando, então, passou a se incomodar com pequenas coisas que antes não a incomodavam, a culpa era dela, não é? Talvez ela nem percebesse essas coisinhas, pois essas estariam escondida por trás de uma muito maior. Ou ela devia ser cega, ou seus pensamentos simplesmente mudaram. Porque a pessoa cresceu e seus objetivos mudaram, assim como seus gostos. O que antes valia a pena passou a ser normal, simples assim, e o que antes eram momentos ansiosamente esperados transformaram-se em tédio absoluto. Mas isso eram somente fases, ou só alguns dias de revolta. Iria passar, com certeza iria. As coisas voltariam a ser como eram. E ela esperava.

ao meu querido cabelinho. -n

Esses dias eu ando pensando seriamente em raspar meu cabelo. Sabe, eu gosto bastante do meu cabelo, até demais, mas é chato demais cuidar de cabelo (pois é, minha preguiça já chegou a esse ponto). Mas, falando sério, se eu não tivesse cabelo, não gastaria tempo para lavar, secar, fazer chapinha blabla e ainda economizaria água, energia e dinheiro. Além do mais, eu canso tanto de fazer algumas coisas para me "encaixar" na sociedade. Pois é, quantos garotos olham para uma garota careca? Não que isso me importe tanto. Mas, tenho certeza que as pessoas olhariam feio, ou com dó né. E até minha mãe, quando comentei a respeito disso, me disse: "Você é louca Luísa, quer estragar ainda mais seu cabelo?". Detalhe que, para ela, ele já começou a estragar quando decidi cortar um pouquinho diferente do padrão. Gente, não vou estragar meu cabelo raspando-o, ele só vai estar raspado oras. Eu fico pensando se algumas pessoas parariam de falar comigo se eu aparecesse careca rs, ou se teriam vergonha de andar do meu lado. Eu falo e falo, mas tenho certeza que nunca vou ter coragem de fazer isso realmente. E, se fizer, provavelmente me arrependerei depois. Eu só acho engraçado pensar na situação, a cara de horror das pessoas e "Meu Deus, o que você fez com seu cabelo?". Esse negócio de beleza padrão é tão chatinho. Uma pessoa torna-se mais bonita com ou sem cabelo? É, acho que sim né, nesse mundo fofucho onde o que conta mais é o exterior de cada um. E eu acho muito muito deprimente que eu não pense diferente. Eu, sinceramente, gostaria de não me importar com o que vestir, não me importar em pentear o cabelo, não me preocupar com espinhas e mais bilhares e bilhares de coisas idiotas que preocupam todas as garotinhas felizes dia-a-dia. Sei lá se um dia eu vou conseguir mudar esse negócio me importar com o que as pessoas pensam, mas que seria legal raspar o cabelo, seria.

domingo, 21 de junho de 2009

lançamentos de projéteis

Assim, quando eu pergunto para algumas pessoas por que RAIOS eu tenho que estudar algumas coisas que não vão servir para exatamente n-a-d-a na minha vida, a maioria delas, inclusive minha mãe responde: "Não importa que você não será professora de matemática, engenheira mecânica, química, bióloga, blabla, mas para você passar no lindo vestibular de jornalismo ou letras (coisas que tem super a ver com física, matemática, química e biologia aliás) você tem que saber sobre todas essas matérias, e aí, você vai ter que decorar um monte de coisas imprestáveis que não vão servir para nada só para passar numa prova, o problema é que essa prova é que vai fazer tudo o que você será no futuro." Legal, legal, tá certo. Mas não faz o menor sentido para mim. Sei lá, eu penso que se eu quero ser uma boa profissional, eu tenho que me focar nos estudos do que vou fazer e não perder horas e horas estudando uma coisa que será inútil para minha carreira. Obviamente não estou dizendo que nunca mais terei que estudar física, por exemplo, pois tenho que saber o básico de tudo para não me tornar uma pessoa burra e estúpida, mas qual o sentido de eu ter que aprender a calcular um lançamento de projéteis? Eu fico pensando, será que um dia eu estarei sentada escrevendo alguma nova história, aí alguém vai chegar para mim, jogar uma bolinha para cima e dizer: "Luísa, qual foi a altura máxima da bolinha considerando que a gravidade é 10m/s²?". Eu, sinceramente, acho que chutaria a pessoa. Ou então, se fosse algo que eu realmente precisasse saber no momento, procuraria no google. Pegando o exemplo dos meus pais que são bons profissionais etc e tal mas não trabalham com nada relacionado a física, se eu perguntasse algo para eles hoje, eles provavelmente teriam que estudar novamente para poderem me ensinar, isso porque foi algo que eles nunca mais necessitaram e simplesmente esqueceram. Então eu perguntaria - "Por que vocês tiveram que aprender, então?" Meu pai diria que é importante, mas minha mãe só falaria - "Pra passar no vestibular". Sabe, acho que é por isso que me revolto e desisto de estudar. Não faz o menor sentido perder meu tempo precioso, um tempo que eu poderia estar me divertindo e sendo feliz, para sofrer com coisas que futuramente serão esquecidas. Claro que para muitas pessoas meus argumentos estão totalmente errados e que essa é toda uma desculpa para minha preguiça de estudar. Eu realmente gostaria que alguém chegasse e me dissesse argumentos verdadeiros que me fizessem ter ao menos um pouco de vontade de aprender. Passar no vestibular, passar no vestibular. Eu, de verdade, queria escrever um livro e ficar rica, para não ter que pensar na coisa idiota que é o vestibular. Mas isso é um sonho muito impossível, não é? Então vou voltar a meu querido e inútil lançamento de projéteis, só para não zerar em mais uma prova e, talvez um dia, passar no vestibular.

sábado, 20 de junho de 2009

êxtase.

Eu finalmente estava onde sempre quis estar. O lugar que anseie todos os dias da minha vida naquele passado distante. Eu podia sentir o vento forte batendo contra meu rosto e levantando meus cabelos, eu podia sentir o medo, a agonia, o pavor da morte próxima. Mas não era o que sempre tinha sonhado? Não estava exatamente como eu tinha desejado? E agora eu faria o meu ato de coragem, o meu ato final. Eu finalmente poderia ser livre. Livre, como sempre desejei, da forma mais bonita e pura. A verdadeira liberdade. Cambaleei para trás por causa da força do vento, então me agarrei mais forte a pedra mais próxima. Eu não precisava ter pressa, agora, tinha todo o tempo do mundo. Poderia parar, refletir e usar o que me restava de coragem para, enfim, dar o passo final.
O dia estava lindo, como nos meus sonhos. O frio era cortante e o forte vento o fazia parecer pior. Apesar disso, o céu não estava nublado e escuro. O sol estava forte e, se eu tentasse olhar para cima, machucaria meus olhos. Havia algumas nuvens no céu e hoje ele tinha decidido por azul celeste. De todos os dias da minha vida, esse era, com toda certeza, o mais belo de todos. Como eu sempre pensei que seria.
Sentei-me quase confortavelmente naquela enorme pedra, tomando o cuidado de me segurar firme. Olhei, finalmente, para baixo e vi o que esperava os últimos milésimos de segundo da minha existência aqui. O rio era de um azul escuro quase negro, mas que refletia luz à medida que as nuvens deixavam de esconder o sol. A altura da enorme pedra em relação ao rio era muito grande, muito maior do que imaginava em meus sonhos.
A ausência de pessoas me trazia paz e nesse dia eu não estava psicologicamente perturbada, só estava pronta. Pronta para terminar o que não estava certo.

( uma parte do começo de uma história. é um sonho meio suicida em Prekestolen, rs)

a menina indecisa e

Existia uma menina indecisa. A menina indecisa sempre havia sido muito certinha, responsável e feliz. Então, certo dia, ela sentiu uma incrível necessidade de errar. Era estranho e confuso, mas acontece que, para ela, não havia mais sentido em continuar sendo do jeito que costumava ser. O errado era misterioso, desconhecido e traiçoeiro. O errado a atraía. A menina sabia que não seria saudável e bom optar pelo erro, mas ela necessitava-o de alguma forma. Uma estranha luta entre o certo a fazer e a necessidade que a perseguia surgiu em sua mente e ela sentia como se possuísse duas vozes dentro de si. Uma que dizia - vá, tente algo novo, mude, erre, siga suas vontades, esqueça a razão. E uma segunda que contestava - se escutar a outra voz sabe que sofrerá as consequências, continue fazendo o certo e em troca terá o bem. Querer e poder. Só duas palavras que lutavam para chegar em um acordo razoável, um acordo que faria bem a menina no presente e no futuro, que a deixaria feliz e que deixaria as pessoas que estivessem a sua volta felizes. Mas a pobre menina tão indecisa não sabia que nem sempre podia satisfazer todos os lados e que, às vezes, mesmo querendo muito, alguns prazeres deviam ser deixados de lado por motivos maiores. A menina passava a maior parte das horas do seu dia pensando no que fazer. Pensava tanto que se esqueceu de todas as suas responsabilidades e deixou de ser certinha. Pensava tanto que por vezes até se deprimia por não chegar a respostas e deixou de ser feliz. Um dia qualquer chegou a pensar que seria melhor se simplesmente parasse de pensar, mas isso era muito difícil de se fazer sozinha. A menina se distraia com coisas e pessoas que a deixavam alegre, e por vezes, isso a fazia parar de pensar. Então ela agradecia a essas coisas e pessoas. A menina indecisa às vezes pensava em desistir, abandonar tudo e todos, mas isso não mudaria nada, isso só pioraria sua situação, já que seu conflito era com si mesma não com os outros ao seu redor. Às vezes a menina queria deixar de ser fraca e parar de chorar, queria parar de pensar no maldito erro e só ser feliz assim como as outras pessoas. Ela sabia que as pessoas que a deixavam alegre, assim como as que não deixavam, também possuiam seus conflitos interiores e lutavam contra eles. Mas , mesmo assim, ela julgava-se incompreendida. Afinal, porque alguém que tem tudo para se dar bem nessa vida, faria algo errado somente pelo puro prazer de correr riscos? Quando estava sozinha, a menina começou a praticar algumas coisas que a faziam sentir-se melhor. Descobriu que se passasse a escrever sobre seus conflitos, uma parte de seus problemas voavam de sua cabeça e ficavam grudadinhos no papel. A menina indecisa ficou realizada ao descobrir que tinha forças para lutar contra seus próprias necessidades. E, no final, tomou a grande decisão de que mesmo sendo indecisa, mesmo sentindo-se incompreendida e mesmo possuindo terríveis conflitos, tinha a mesma capacidade que todos de ser feliz.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

mudanças

Perto de minha casa existe uma árvore no meio da calçada, cuja as raízes são tão grandes que acabaram tomando grande parte dela. Todos os dias ao voltar da escola e alguns voltando das aulas de inglês eu passo por ela e pulo sobre suas raízes. É uma coisa que simplesmente tornou-se costume, uma rotina como comer ou ir ao banheiro, eu não preciso pensar que devo pular, eu simplesmente pulo. Hoje ao voltando do colégio percebi que, no lugar das minhas raízes, haviam em torno de cinco ou seis homens com serras e máquinas. Só após alguns segundos fui reparar que estavam cortando-as e, quando finalmente percebi, levei um choque ruim e inesperado. Senti meus olhos enchendo-se de lágrimas e uma súbita vontade de impedí-los. Uma tolice? Talvez. Afinal, eram somente raízes que atrapalhavam a passagem das pessoas, que impediam uma circulação mais fácil, que faziam com que pedestres tivessem que desviar um mínimo trecho da calçada e caminhar pela rua ou, simplesmente, pular, como eu costumava fazer. As grandes raízes já haviam tornado-se passado, assim como meus pulos, como mais uma pequena parte da minha infância. Foi uma sensação ruim simplesmente por eu ter percebido que uma mínima e despercebível parte de minha rotina havia acabado de repente e que muitas outras podem acabar numa fração de segundos, quando eu menos esperar.

meus pensamentos num tsuru

Esse nome está na minha cabeça a alguns dias. Foi durante uma aula qualquer no colégio que, como de costume, peguei uma folha de papel e comecei a escrever algumas reflexões sobre assuntos aleátorios que me preocupavam. Quando terminei, li algumas vezes e achei tão absolutamente rídiculo o que tinha escrito que resolvi criar um origami no pedaço de papel. Depois, pensei comigo mesma - peguei todos os meus pensamentos e fiz um tsuru com eles. Achei tão engraçado que até escrevi alguns versinhos. Fim da história, rs. obs - créditos a Gigi e Vit por terem me ensinado a fazer um tsuru *-*

talvez um começo

O maior sonho da minha vida sempre foi escrever um livro. Confesso que já tentei algumas vezes, mas sempre desisti. Eu nunca tive criatividade o suficiente para fazer uma história que eu julgasse boa, já que todas elas, no final, acabavam contando a minha própria. Escrever faz eu me sentir melhor, é como uma terapia para os dias em que estou triste ou iconformada e uma grande diversão para momentos que estou feliz. A ideia de criar um blog para mim sempre foi um pouco distante, eu não gosto (ou pensava não gostar) de compartilhar meus pensamentos com as pessoas, acho que muitos deles são um pouco absurdos, infantis demais e às vezes complicados demais até para eu mesma compreender. Quando algo me incomoda ou me faz pensar, costumo escrever em qualquer papel que encontrar ou abrir diversos documentos no word. Não sou organizada o suficiente para escrever num diário, ou criar um blog, mas estou aqui. Bom, eu me julgo uma pessoa confusa e extremamente indecisa, então talvez amanhã eu já tenho desistido dessa idéia.