sábado, 14 de novembro de 2009

Pensamento perdido

Hoje, ao ver uma foto não tão antiga assim, me surpreendi ao perceber algo que nunca antes havia compreendido. Baseando-me no tempo tão curto e nas mudanças tão intensas, reparei que não sei mais quem sou, ou, provavelmente, nunca soube. Hoje pelo menos sei que não sei, o que, aparentemente, é um avanço. Acho que só agora pude entender claramente o significado daquela frase de G. K. Chesterton: "O homem não tem alternativa, exceto entre ser influenciado pelo pensamento refletido ou pelo pensamento irrefletido". O homem não é o homem, o homem são os outros. Eu não sou eu, sou um conjunto de coisas. Um conjunto de ideias, sentimentos, reflexões e opiniões, falta de reflexões e não opiniões. E todo esse conjunto de coisas fazem eu ser eu agora, nesse instante. O instante já passou, não sou mais aquele eu, agora já sou outro que daqui a pouco vai deixar de ser o que era. E assim vai continuar sendo pra sempre, até eu morrer, sem nunca ter conseguido responder a pergunta - Quem sou eu?

7 comentários:

  1. E, então, chegamos a outra questão - O que importa? O autoconhecimento é basilar para compreendermos ou, mais honestamente, nos inserirmos no entorno. A consciência do eu-ser aponta direções, ramifica caminhos, desentreva os sentidos. A busca, então, não deve cessar. Ao se extinguir nos anulamos, emburrecemos. Mas, volto agora à nova questão: acredite! mais vale o "como", e não o "o quê". Ao se infligir a angústia do não chegar ao destino você perde as belas paisagens. Se torrentes fugazes somos, como você já percebeu, aprecie a jornada. A nossa parte perene - e, por perene, reconhecível - vai se amalgamar (se revelar?) com o tempo. Mas, bem sei, são apenas palavras ao vento. O tempo é o tempo de cada um. O seu certamente virá (bem como o meu, talvez!).

    Pra fechar, com alguém que vc gosta:

    "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." C.L.

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  2. Nunca vou deixar de buscar respostas apesar de saber que, se chegarem, só me trarão mais e mais perguntas. Estava pensando se então existimos para os outros e não para nós mesmos.. Às vezes acho que vivo para ser aceita pelos outros, às vezes acho que TODOS vivem com o infeliz objetivo de serem aceitos. Isso é realmente a meta(se é que há alguma) de viver? então talvez não exista liberdade.

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  3. Acho que a gente vive para aceitar a nós mesmos. Aceitar as nossas limitações, nossos defeitos, nossas angústias, para chegar a conclusão que não somos nada disto mas sim a nossa essência. Você sabe qual é a sua essência? A nossa essência transcende a tudo isso.

    Mamãe

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  4. Não posso entender o que você chama de essência mãe..

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  5. Não me parece, nem de perto, que seja a meta. Mas, sem dúvida, nossa existência está intimamente ligada a dos outros (e não *para* os outros). Zaratrusta, fartando-se de conhecimento, não prescindiu de seu autoisolameno e desceu a montanha para compartilhar esse conhecimento com os homens? Somos assim! Fazer o quê? Dependemos dos outros para aprender e para doar, para receber e para compartilhar. Talvez, após trocar o suficiente com os outros, um dia nos sintamos autossuficientes para uma jornada solitária por respostas; mas até lá temos que aceitar e fomentar com desvelo essa troca. E, como já disse, para isso temos que nos inserir no entorno (qual mais lhe convém você descobrirá com o tempo). E aí volto a insistir no "como", agora de outra perspectiva. Podemos ser aceitos pela submissão aos pensamentos - geralmente irrefletidos - dos outros, ou pela imposição dos - preferencialmente refletidos - nossos (há ainda o acolhimento por semelhança que, por ideal que pareça, agradeceríamos e logo abandonaríamos, já que é um conforto que pouco ou nada agregaria a nossos inquietos espíritos!). A primeira forma é mais rápida e cômoda, mas turva-nos o espírito. A última demanda mais paciência, mais humildade, mais carinho, mas é gratificante pois conquistamos o respeito pelo que somos. (não estou me referindo a imposição pela força, artifíco que geralmente denota fragilidade argumental ou intransigência; é apenas batalha vencida, sem antes pacificar). Bem, cabe a nós decidir como buscaremos a aceitação e qual impacto isso nos trará.

    Para finalizar (parlare, parlare...) pego um gancho, sem me aprofundar, no comentário anterior, com o qual, de certa, forma concordo. "Conheça-te a ti" (dispenso aquele "mesmo" que é usual) é uma idéia importantíssima para aprofundarmos na jornada. Mas, podemos alcançar a nossa "essência"? E, se a alcançarmos, poderemos recolhecê-la? Talvez seja uma "busca pela matéria-escura"... Então, já que para avançar imagino precisarmos transpor a busca consciente do "eu", sugiro começar, como a ciência usualmente faz - já que a citei -, com um subterfúgio: Já que é difícil reconhecer o que somos, podemos começar identificando e nos afastando do que NÃO somos. Talvez seja uma boa estratégia...

    (e.t.: o que é "liberdade"?...)

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  6. Xiii... dê um desconto para os errinhos e imperfeições, ok? Está tarde, postei sem revisar e esse Blogger tá de sacanagem com meu Firefox... Na próxima eu deixo a preguiça de lado. Bjos.

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  7. Gostei muito do que você escreveu pai. E, como disse Clarice Lispector, "Todo momento de achar é um perder-se a si próprio. Qualquer entender meu nunca estará à altura dessa compreensão, pois viver é somente à altura a que posso chegar - meu único nível é viver." Então, como você citou no primeiro comentário, o que importa é o "como" e não o "o quê" já que talvez a "compreensão" nunca vá chegar para nós enquanto estivermos vivos. Sobre a sua pergunta, bom, eu tenho duas opiniões em relação a liberdade. Primeiramente penso que, para ser possível uma pessoa ser livre, ela teria que sair do sistema (regras, deveres, etc) em que nos encontramos hoje e conseguir desapegar de todos os meios que julga erroneamente serem "necessários" para viver (isso incluindo as outras pessoas também), mas que não o são para sua existência. Depois, penso que ser livre é encontrar a satisfação. Já percebeu que nunca estamos satisfeitos com a vida? E que, se uma hora é encontrada essa satisfação, ela logo é substituída por uma outra insatisfação? Talvez seja por que gostamos de estar insatisfeitos, mas, bem, isso já é assunto para outra discussão. Eu não sei se está, digamos assim, "correto" meu conceito sobre isso, porém, por enquanto, é minha única maneira de vê-lo. O que você acha?

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