Abriu os olhos muito lentamente, e, após alguns segundos, percebeu que não sabia onde estava. A primeira coisa que percebeu é que estava deitada sobre algo duro e frio, mas estava escuro demais para distinguir o que era. Tentou levantar-se, mas em vão, seu corpo pesava muito e nenhum músculo queria se mover. Não podia ouvir um único ruído. Infeliz, pensou que isso devia ser a morte. Procurou lembrar-se como tinha morrido, não conseguiu. Ouviu passos lentos e arrastados vindo de algum lugar. Quis gritar por ajuda, mas nem mesmo sussuros saíam de sua garganta. Ela pode sentir os passos cada vez mais próximos, e então, percebeu, era um velho senhor. Agachou-se a seu lado. Ela tentou dizer algo, porém, mais uma vez, não foi capaz. Ele examinou-a de cima a baixo, e, por fim, murmurou:
- Você é jovem demais. O que faz aqui?
Como não obteve respostas, suspirou.
- Agora você já pode me responder, tente.
Ela sentiu algo estranho entrar pelos seus pulmões, não era ar, não era nada parecido com o que ela havia experimentado antes. Então percebeu que não tinha respirado desde que havia aberto os olhos. Quanto tempo haveria se passado? Não sabia.
- Minha querida, aqui não há tempo. - o velho disse calmamente.
Surpreendeu-se com a resposta do velho. Como o será que ele sabia o que estava pensando?
- Não se surpreenda, eu também não estou falando. Você está escutando o que há dentro de mim.
Ela não pode entender muito bem, mas disse pensando:
- Aonde estamos?
- Acho que não-estamos. Isso é um lugar vazio, um nada. Apesar de, primeiramente, parecer que seja alguma coisa. Mas o tempo inexiste, então não tenho como saber se alguma vez já parei para pensar sobre isso. Não sei nem se estou aqui falando com você.
Ele a havia deixado completamente confusa.
- Bem, então o que estou fazendo aqui? Porque vim parar no nada?
- Eu sei porque estou aqui, mas só você poderá saber o seu motivo. Você pode não se lembrar agora, mas, provavelmente, desistiu de viver a realidade. Optou pela ilusão, pelo sonho. Optou pelo nada. Bem, aqui está seu nada.
- Não me lembro.. mas não gosto daqui, preciso achar um jeito de voltar.
- Eu nunca consegui voltar, mas talvez não seja o mesmo para você. Afinal, tudo isso faz parte de sua consciência. Assim como o que você julgava ser realidade.
Subitamente ela se lembrou, não podia mais sentir nada em sua antiga realidade. O sofrimento era tão grande que à destruiu. O que sobrou foi lentamente sendo consumido pela apatia. Ela estivera, nos últimos tempos, vivendo uma ilusão. Seus sonhos eram ilusões, assim como suas esperanças passadas. Estivera, sozinha e silenciosa, esperando a morte que demoraria a chegar.
- Então você decidiu?
- Sim, prefiro ficar aqui. - e fechou os olhos novamente.
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