terça-feira, 21 de dezembro de 2010

À mim e à sujeira da parede.

Me deu vontade de escrever pra você. Posso sair escrevendo por puro êxtase momentâneo? Não quero falar sobre você, sobre mim, sobre nós, sobre nada. Quero falar sobre flores. Explosão de flores. Me conte algum segredo que ainda não sei. Me conte. E te contarei um que ainda não sabe também. Ele tem cheiro de flor, gosto de flor, mas não é flor. É explosão de flores. É mais ou menos assim: você escala uma montanha alta, bem alta, e nunca chega ao topo. Depois desiste e desce, só pra perceber que nunca teve topo. Eu estou parada no meio do caminho, você está parada no meio do caminho. Você vê o topo, você deseja o topo. Mas ele não existe. Triste realidade, não é? Enquanto isso eu colho as florzinhas rasteiras que encontro pelo caminho. Eu vou colhendo, em silêncio, sem nenhum objetivo além do de ter as flores cheirando doce em minhas mãos. As pessoas copiam o perfume das flores, acho engraçado. As pessoas gostam de dizer que são os animais superiores mas copiam tudo dos outros seres, tudo. São os animais mais bobos e sem a menor originalidade, é isso que são pra mim. Mas não vem ao caso. O caso é que você crê tanto tanto tanto tanto ver um topo que não desiste em tentar escalá-lo. Eu vou atrás, sabe? Só por curiosidade mesmo e por prazer também. Quero ver até onde você chega nessa sua busca desenfreada. De repente vem uma mosca e puf, pousa na sua mão. Você tira a mosca, você ri da mosca. Mas olha, os átomos dela ainda estão em suas mãos, e agora? Você é meio homem - meio mosca? Ou então, 99,9999% homem e o que resta - mosca. Não te assusta e nem te incomoda. Me assusta e me incomoda. Você tem mãos de mosca, suas mãos sãos 35% mosca. E eu inventei esse número sim, pois gosto de sair inventando. Sabe eu sempre - odiei - as moscas, mas nunca dei o valor necessário a elas. Parece que, de uma maneira ou de outra, elas sempre estão lá me avisando: Não há um topo na montanha, não há um topo na montanha, não há.. e eu vou lá e mato-as. Mato-as sem a menor dó. Aliás, mato com prazer de matar um ser que me incomoda só por existir. Triste, não é? Triste. E ainda temos a capacidade de nos considerar melhores que alguma coisa, impressionante. Olho pro chão e lá estão minhas flores, sabe o que elas me dizem? Suba a montanha, suba a montanha. No final, eu sempre soube que elas seriam traidoras, mas ignorei esse fato por serem assim... demasiadamente belas. E olho para elas e sabe o que faço? Acolho-as todas em meu coração - todas. Por que? Vá, me pergunte. Porque sou cega e gosto de acolher o belo pelo belo sem ver que há mais escondido. Tudo bem, isso se chama ser bicho-homem. O lado bom de tudo isso é que há amor. Não entendo - com toda sinceridade que há no meu coração - o porquê das pessoas muitas vezes dizerem que o amor é ruim, que o amor dói, que o amor isso, que o amor aquilo. O amor é a única certeza. É a única certeza de.. que há sentido bonito por trás das coisas feias. O que nós fazemos com o amor é que dói, é o ruim, nós nos machucamos e depois dizemos: Ah, pelo menos aprendi e.. Pare de se enganar! Não há topo na montanha. Então beije as moscas, beije como se fosse juntar-se a elas, você está certa, seja meio-mosca. Eu sou meio-flor - estupidamente tosco. Mas verdadeiro. Ame as moscas, ame seu próprio corpo e o chão sujo da rua a ponto de esfregar-se nele até sangrar. A beleza é relativa. Ei, o topo da montanha também é relativo, não é? Sinta-se nua de razões e simplesmente exploda. Vá, tente agora - exploda. Explodir faz bem pra tudo, você se recompõe e alivia a dor que é viver. Eu perdôo. Hoje eu perdôo a explosão. Também perdôo você, as moscas, o chão sujo, as flores e o topo da montanha. Perdôo tudo, menos as mentiras que crio para aliviar minha dor.

domingo, 5 de dezembro de 2010

25 de novembro.

Chovia, chovia, chovia.
Você não deve se lembrar, mas pouco importa.
Um dia a nuvem seca e deixa de explodir-se em contentamentos libertários.
Então, será a minha vez.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Na selva de pedra

Voltava da escola cabisbaixa, isenta de pensamentos concretos e emoções. Todas as voltas eram assim. Sol escaldante, chão de concreto. Olhava meus pés desejando ter barbatanas, que a calçada fosse um rio e, os carros, peixes. De repente ouvi gritos do outro lado da rua: um casal brigava. Havia policiais em volta deles e um bebê era apertado contra o seio da mãe que berrava, soluçava e arrancava os cabelos. O homem tentava argumentar, a mulher gritava ainda mais. Então, ele decidiu partir para a guerra verbal também. Choveram palavrões e curiosos, que paravam no meio da calçada só para observar. Que tristeza, que decepção! Dia errado eles escolheram, eu pensei. Justo nesse momento de vida que desconfio tanto da raça humana que chego a desejar ter nascido um molusco. Nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhum sinal de vida que não fosse humana, nenhuma mostra de que eu deveria me satisfazer com o que estivesse ao meu redor. O casal gritava, os curiosos observavam. Eu apressava meus passos, desgostosa. E os desgostos passaram a brotar na minha mente, como pipoca estourando na panela. Pensei nas pessoas sempre em busca de mais, de mais, de mais o que? Bens, dinheiro,inutilidades, paixões passageiras, experiências vazias. E me espanto, pois sou uma dessas pessoas! Não queria ser. Digo aos outros que quero sair da sociedade, peregrinar por aí, sem rumo, atrás de um sentido qualquer, de uma liberdade irrestrita. Não vejo sentido algum em permanecer. Algum dia, talvez quando esse casal escandaloso já estiver jazendo sob a terra, eu partirei daqui para sempre.

Tenho que dizer que estou sendo influenciada pelo livro/filme "Na Natureza Selvagem". Que, aliás, todos deveriam ler e assistir.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sentidos, conflitos, repetições.

Não quero fazer sentido. O sentido, às vezes cansado, toma a forma da falta de sentido. Dissimulado. Eu não sei, você não sabe - apesar de fingir muito bem saber. E o tempo vai passando. As semanas parecem dias e alguns dias parecem semanas. As ideias se vão como pombas assustadas no meio daquela praça suja. E voltam. As cores se perdem. E voltam. As palavras se perdem, as vontades se perdem, as manias, os amigos e os enfeites de cabelo. Nem tudo volta. Assim vai se seguindo sempre, minha única certeza é não ter certeza. E achar que se ama e que não se ama e que se ama independente de qualquer dependência. E vai se o vento, voando, voando alto. Balança a cortina branca. Sim, a mesma que contra luz tornava-se toda amarelada e fazia a silhueta das grades do portão. Os sentimentos às vezes são tão banalmente criados que confundem os verdadeiros. Eu escrevo, sem pensar nas palavras. Pensar... Pensar cansa. Pensamos demais. Demais. Tudo em excesso faz mal, até amar. A gente acaba se acostumando, fazendo virar rotina ou obsessão. Depois vem a dor. Ela se vai - pomba. E volta. Não ligo mais pra ela, apesar de às vezes a chamar um pouquinho. Só sei que, ao menos dessa vez, estou consciente das minhas escolhas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Falha tentativa de racionalizar

Dei sorte, o ônibus hoje está vazio, as pessoas tranquilas. Por fora há paz. Dentro de mim as palavras correm como água escorrendo do vaso derramado, por vezem param, outras, gotejam como numa pia mal fechada. Voam, voam sem perceberem que não tenho às minhas mãos uma única folha de papel. Então fecho os olhos e o texto todo vai se formando na minha cabeça. Para que? Se apagar segundos depois e perder-se para sempre? Água suja, descartada. Percebo que o que há de real torna-se todo irreal. O lugar agora me parece antigo, vermelho. Então me sento numa poltrona de veludo e uma banda toca o mais bonito que há na música. Jazz. E desejo tão, tão profundamente não ser uma mera espectadora. Queria estar ali, sobre aquele palco, com um saxofone nas mãos, fazendo surgir de mim mesma o divino. Abraçando o mundo com a minha respiração e fazer do meu ar, do meu sopro de vida, a música, na sua forma mais pura de ser. Ou então cantar canções. Cantar. Me aperta tão forte esse desejo de estar além de mim, que meu corpo se sente sufocado, as lágrimas caem. Uma após a outra. E sinto novamente aquela sensação, aquela certeza de que não nasci para pertencer à humanidade, nasci para pertencer ao mundo. Sentir a terra vermelha sob meus pés descalços, abraçar a chuva e juntar com ela o meu lamento. Arrancar meus cabelos num grito de desespero, rasgar-me e sentir que estou viva, só para depois me recolher dentro de mim mesma e transformar-me numa sementinha quase invisível. Queria entender o que sabem sobre mim. E eu, o que sei sobre os outros? Eu não sei. E dizem que se estivessem no meu lugar agiriam de forma diferente. Forma diferente? Não sabem como é a sensação de me ser, não sabem os caminhos que trilhei e as decisões que tomei. Não há nada mais feio que julgar. Mas julgo, também julgo porque sou humana. Queria não ser, é bem verdade, mas que outra escolha me resta? Queria sentar-me entre as folhas e camuflar-me de verde. Ou velejar num barco pequeno pelos aléns dos aléns que hoje nem sei se existem. Ou quem sabe tornar-me um cão peludo e pulguento, vadio, buscando restos de alimento entre os sacos de lixo na rua? Mas de que me adianta sonhar com o impossível? Diga-me, então, para racionalizar. Eu tento buscar um sentido e às vezes chego tão, tão próximo... Nunca o suficiente para contar a alguém. Então vivo em devaneios, à espera que o sentido volte, mas ele nunca volta quando o busco. Às vezes em segredo, durante sonhos, sussura em meus ouvidos; ou quando há música, ele sempre volta quando há música. Esforço-me para entender que ninguém é igual a ninguém e aceitar o mundo que vivo. Não aceito. Os outros querem ser sempre mais que os outros. Eu não quero ser mais que ninguém. E também não quero abandonar o hoje, o agora, para prevenir meu futuro de dores. Me chame de imatura. Dê tapas na minha cara. Vou sempre dizer que você tem razão, pois tem, tem mesmo. Sinto muito, mas não aceito a razão. Não é isso que pedem dentro de mim. Pedem sempre que eu sinta. E se eu errar? Vou errar. Estou errando, olhe. O que me resta, então? Viver de prevenções para depois.. depois o que? Depois morrer? Não peço que concordem, nem mesmo que me escutem. Escutem a música só, é a única coisa que faz sentido. Viro-me de lado e volto à realidade. Um ônibus sujo, um livro nas mãos, as lágrimas rolando. Realidade essa a que eu me submeti ou outros me submeteram? Não importa. A água já está toda suja.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sinceridade

Sentaram-se. A tarde mal-humorada aos poucos se despedia de sua observadora plateia e partia, cobrindo-se de nuvens cinzentas e deixando lugar para a noite que, exibicionista, já reclamava seu espaço. O banco era frio; os rostos próximos. Já chegava a hora de partirem, mas para que, afinal? Então permaneciam. Não havia palavras, tampouco risadas, carícias ou olhares. Havia uma espessa massa de ar embolorado que saía de dentro pra fora, ou seria de fora pra dentro? E consumia cada pedacinho daqueles seres que, silenciosos, aguardavam. A última réstia de luz já tinha ido embora há uma ou duas horas e o vento ia e vinha, incessantemente, balaçando as folículas daquelas plantas de vaso de lá para cá e de cá para lá. Imóveis e silenciosos, os dois permaneciam. O único movimento vinha de dentro deles, forte, rápido, constante. Uma troca de palavras. Esperança desesperançosa, ingrata. O céu já estava tomado de pontinhos brilhantes e uma bola branco-amarelada envolta em fiapos de luz quase transparentes, era a noite exibindo tudo o que tinha de melhor. Eles davam as mãos, e isso era tudo que tinham de melhor. Dar as mãos, puro ato provido de vida. E as mãos tremiam, suavam frio, até elas estavam cheias de medos, incertezas e angústias. Um raio lampeja no céu, obviamente querendo provar que brilha mais que todas aquelas ingênuas estrelinhas piscantes. Eles se entreolharam. Em questão de segundos o pátio começa a girar, primeiro de um lado, depois de outro. Mais raios caem do céu, estonteantes, e surgem brilhando, brancos, azuis, amarelos, verdes e alguns até vermelhos. Os dois corpos permanecem em intensa sintonia. De repente tudo para. Um dos seres respira o ar como se fosse inspirar o mundo, então o pátio volta a ser pátio e o céu volta a ser somente um cobertor de estrelas. Eles se entreolham novamente, o chão frio de pedra parte-se no meio e ambos sentem um estranho aroma úmido de chuva. Estão num rio. Transformam-se, então, em peixes, um vermelho e outro branco. Nadam frenéticamente deixando-se levar pela correnteza que os puxa, cada vez mais forte. Piscam os olhos, uma, duas vezes. Novamente o primeiro cenário se reconstrói. Silenciosos os dois partem, quem sabe se para nunca mais voltar. O pátio permanece frio, seus bancos e plantas reclamam solidão. Solidão sem dor. O que resta aos seres é a plenitude. Só isso. Fora embora a angústia, o medo e a incerteza do desejo reprimido. O que restou foi um quase alívio do sedento que encontra a fonte de águas transparentes. Um dos seres caminha junto às gotas de chuva que respingam em seu rosto. Então, para e olha para a palma de sua mão. As linhas traçadas parecem mais fortes e ele acredita que, sendo obra do destino ou não, dessa vez eles haviam acertado.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Flores de plástico

Você não sabe tocar, mas senta-se à frente de um piano e bate nas teclas do jeito que bem entende, suave ou rispidamente - não importa. À sua volta todos te observam. Rostos taciturnos, olhares críticos e alguns sorrisos gozadores. Não dê atenção a eles, feche os olhos devagar e escape da realidade que dia após dia você mesmo se submete a viver. Toque novamente. Agora veja, se você sentir – sentir na sua forma mais pura de ser - já é música. Certas vezes os homens destroem a beleza do abstrato ao tentar concretizá-lo. Eu destrui a beleza das palavras ao tentar disciplinar esse ser indisciplinável que sou. Sinto tanto e, tantas vezes, busco colocar no papel. Nada me satisfaz. Quero contar-lhe toda a verdade que há dentro de mim, porém, zombo de mim mesma quando penso em fazê-lo. Acordo todos os dias e pergunto-me se sou louca em sonhar o mesmo sonho, noite após noite, noite após noite. Tenho medo de que o que digo ter sido real seja tão irreal quanto meus desejos mais impossíveis e insanos. Sei que você nega o que passou e foge disso toda vez que olha nos meus olhos e sorri. Não é mais o mesmo sorriso. Mas basta perguntar ao pôr-do-sol e ele lhe dirá: você sentiu, não negue mais. As árvores te denunciam, o ar te denuncia e até mesmo as nuvens cinzentas te denunciam. Eu não te denuncio, mas brinco com meus pensamentos, sonhando acordada com aquelas lembranças. Depois paro. Respiro fundo e observo as paredes brancas do meu quarto. Quando canso de observá-las, deixo de ser quem sou e as lembranças se vão. Mais cedo ou mais tarde sei que retornam. Preciso contar-lhes: há um lugar bem longe daqui em que as florestas são azuis e os mares vermelhos. Nesse lugar há um velho que cultiva flores de plástico. Um dia, eu e o velho jogávamos conversa fora, quando, sem motivo algum, ele me contou o seguinte: há uma flor em meu jardim de concreto, a mais bela de todas; suas pétalas brancas brincam de se pintarem com todas as cores do arco-íris quando o sol se põe. E acrescentou que não existe um só ser vivo no mundo capaz de ver além dele mesmo. Paro. Seu rosto vermelho chora lágrimas de emoção. As andorinhas que viajam de um lado para o outro me disseram que o velho é cego. Pouco me importa, eu gosto de acreditar na história da flor. Quantas vezes também não fui cega e te transformei em perfeição, ser inacreditavelmente imperfeito?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A lima da pérsia

Acontece que um dia, sem fome, sem vontade, sem nada, me surgiu a ideia de comer uma lima da pérsia. Assim sendo, abri a segunda gaveta da cozinha em busca de uma faca que fosse afiada o suficiente para que a tarefa de descascar uma lima se tornasse, no mínimo, tolerável. Quando enfim encontrei a de meu agrado fui, em movimentos circulares, descascando devagar sua pele lisinha. Meus dedos apertavam firmemente seu corpinho rechonchudo, enquanto as fatias da casca seca e amarelada que a protegia iam caindo desgraçadamente sobre a toalha. Enfim, só restou-se aquela camada branca da fruta, aquela pele macia que tão graciosamente a envolve, última defesa da polpa que descansa em ingênua segurança. Pobre lima da pérsia! Eu perdida em tolas divagações humanas, mal me dava conta de que desvendava seu segredo mais íntimo. Meus dedos faziam seu corpo rolar de um lado para o outro, de um lado para o outro. Subitamente, porém, eu parava, arrancando sua pele branca com as minhas unhas afiadas. Meus pensamentos voavam longe, bem longe dali. De repente me cansei, peguei a faca e parti a pobre fruta no meio. Ah se ela pudesse gritar! Provavelmente agora eu estaria ensurdecida, tamanho seriam suas súplicas e lamentos. Arranquei uma a uma suas sementinhas miúdas e meti um pedaço na boca. Foi então que meus pensamentos voltaram-se para ela. Olhei para a lima com atenção, nunca antes havia reparado como era bonita. Toda feita de fiapinhos recheados de água doce com perfume de flor. Passei a brincar de desfazer aqueles gominhos. E pensava: soltem-se dos seus irmãos! Os segundos pareciam horas enquanto eu me entretinha na minha inconsciente e sádica diversão. Então, comi mais um pedaço. Aí fui comendo; mais um, mais um e ainda outro. Quando me dei conta já havia comido a lima todinha. Eu tinha comido uma vida. Uma vida toda. Meu corpo inteiro começou a tremer, meu estômago dava voltas e voltas. Era vida destruindo vida. Senti uma dor aguda, súbita vontade de pôr tudo para fora. Aquela foi a primeira vez que senti nojo de viver.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Entre o mar e tortas de limão

Já era de manhã. Cedo demais, tarde demais.. o que importava? As coisas iam e voltavam, iam e voltavam - ondas. O ritmo constante-inconstante seriam talvez as tempestades de areia que bagunçavam nossos cabelos. Mais tarde era a praia. Escutei-a dizendo: pense numa torta de limão. E assim se fez. Todos aqueles sentimentos contidos traduziam-se apenas numa simples torta de limão. Meu eu consciente estava sendo controlado pelo meu inconsciente e tudo se resumia em... Já chega. A verdade é que eu estava mais preocupada em sentir como o barulho do mar e os grãos de areia que roçavam meus pés embalavam todos os meus sentimentos confusos do que em realmente tentar entender suas palavras. O que se fazia era a tempestade de areia - ritmo inconstante. O que se fazia era mais uma vez eu - ser incompreendido buscando compreender. O que se fazia era a dúvida, a angústia, a busca incontrolável de algo que nunca iria chegar. Eu não entendia, mas aceitava. Acabou; agora espere. As coisas aos poucos vão se resolver, para depois tudo recomeçar de novo e de novo e de novo. Era assim que deveria ser mesmo, a gente envelhecia, mas ainda construía castelos de areia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Curto diálogo com uma mosca

Certa noite estava eu, distraidamente tomando banho, quando reparo em um pontinho preto que nunca tinha visto antes na minha parede. Devido à minha miopia, não percebi de imediato, mas, ao me aproximar um pouco mais, vi o que era o tal do pontinho: uma mosquinha repugnante me encarava.

Uma onda de repulsa percorreu pelo meu corpo. Eu a encarei com desprezo e estava pronta para matá-la quando, de repente, ouço uma vozinha fina vinda da parede:

- Você não tem medo de que em outras vidas a gente possa se encontrar novamente e eu me vingue de você?

- Hãn? Do que você está falando? Quer dizer: você está falando?!

- Preste atenção - ela respondeu, evidentemente ignorando meu espanto. - Imagine que, sei lá, eu reencarne como um psicopata e volte aqui para vingar minha morte..

Que engraçado, eu tinha uma mosca na minha parede e ela tentava me intimidar.

- Mosca, mosquinha... eu não acredito em reencarnação - respondi, rindo sarcasticamente.

Ela retrucou:

- Que seja então, aposto que quando você morrer, Deus vai te castigar. Ele foi bem claro quando mandou colocar nos dez mandamentos: "Não matarás.". Aí enquanto eu estiver feliz pulando sobre nuvens no Paraíso, você estará sofrendo no Inferno por ter pecado.

Cada vez essa conversa tornava-se mais hilária. Agora eu tinha uma mosca que, além de estar na minha parede, interrompendo meu banho e procurando me intimidar, ainda tentava falar sobre Deus. Eu repliquei:

- Para sua informação, mosca, eu sou atéia, viu?

Ela me encarou por alguns segundos.

- Humanos, sempre achando que sabem de tudo... - debochou - Tudo bem, então vá em frente e me mate.

- Agora você não se importa mais com a morte? - perguntei.

- Por que eu me importaria? - ela respondeu pacificamente - Afinal, sou uma mosca. Minha vida baseia-se em voar tolamente de uma parede para outra, de uma para outra, de uma para outra...

- Mosca.. - eu a interrompi - Mosca, eu entendi. Mas você não teme que, após a morte, não haja nada, nem sequer suas feias asas cinza para que você possa voar?

- Sinceramente, não. - ela me olhou pensativa - Eu sou somente uma mosca, um animal irracional, lembra?

- Ah é? Então se você é um animal irracional eu estou conversando com quem?

- Acho que sozinha. - tinha os olhos tristes - sinto muito.

Quando me dei conta da minha insanidade, não pensei duas vezes, peguei a saboneteira e esmaguei aquela criaturinha sem dó contra a parede. Posso até ser insana, mas não vou suportar que moscas tenham compaixão por mim. Como odeio moscas...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em busca de algo maior

Enquanto a estrada parecia interminável, o vidro embaçado embalava meus pensamentos e, pacificamente, parecia acolhê-los. Silenciosa, eu o agradecia, pois já me encontrava demasiadamente exausta deles. Meus pensamentos não pareciam preocupar-se nem um pouco com minha saúde e, quando os dispensei, rapidamente partiram, buscando transformar-se em minúsculas gotículas de chuva e voar em círculos com o vento, procurando descansar sobre a pele fria de um velho senhor que passava pedalando sua bicicleta. Meus olhos intrigados pareciam divertir-se muito mais com as árvores de folhas vermelhas do que preocupar-se em perdê-los em virtude de uma inesperada tempestade. De repente, um cão passou correndo; seus longos pelos aqueceram todo o meu pensamento-chuva e eu sorri, desejando mais que tudo ser como aquele simples animal. Talvez ele sentisse fome, é bem verdade, mas eu estava certa de que com o frio ele já havia se acostumado. Para mim, ele parecia extasiante e... livre. Naquele momento, me compreendi. Atrás do atrás do pensamento, ocultava-se a necessidade de viver - livre. Como era teimoso esse tal desejo de liberdade! O dia em que, sem ser convidado, decidia aparecer, demorava tanto a ir embora. Deu-se, então, com mais intensidade quando meus olhos passaram das árvores vermelhas ao enorme vale que se abria bem abaixo de nós. O vento me provocava e, naquele instante, percebi que ele estava intrinsecamente ligado com a liberdade. Sussurrava, pedindo-me para sair e dançar. Pobre vento! Não percebia que isso me era impossível. Com a dança, viria a morte e, certamente, não era isso que eu buscava. Buscava somente aquilo que, dia a dia, me restringiam: meu livre arbítrio. Em certa aula de filosofia, aprendi que, para pensadores medievais, de livre ele não tinha nada. Porém, eu sabia que ele existia, pois me chamava, me chamava desesperadamente. Suplicava para que eu o encontrasse. Mas eu estava longe. O sonho estava chegando ao final, a chuva, aos poucos, deixava de cair e, novamente, o sol aparecia. Então, meus pensamentos retornaram, um a um, para a minha cabeça. Cedo demais, voltei a tornar-me um protótipo de mim.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tudo estava escuro e turvo. Havia música preenchendo todo o espaço com um ritmo constante. Variavam-se os acordes de guitarra, isto é certo, mas os ouvidos habituados descansavam de prestar atenção. Gargalhadas altas, exageradas, muitas. Essas brincavam de colorir o espaço com variados tons de cor de rosa. A sua risada obviamente era a mais chamativa e parecia provocar-me, ludibriando a minha com evidência malícia. Estávamos todos nós ali, banhados de álcool e êxtase. Só um dos meus eus parecia compreender, os outros aceitavam passivos, demasiadamente embriagados, talvez. Jamais, aos meus olhos, você teria ostentado tamanha perfeição, exceto, porém, àquele dia em que caminhávamos, a sós, pela larga avenida. As primeiras vezes sempre ficam guardadas na nossa memória como as mais surpreendentes. Aquele dia, lembro-me claramente, o vento gelado bagunçava meus cabelos e sua extrema beleza peculiar cegava-me os olhos, foi uma primeira vez. Foi esta que me fez duvidar de tudo o que eu era ou havia sido, confundiu aonde antes reinava a ordem, fez eu ganhar novos olhos, me descobrir mais de mim. Éramos loucos e queimávamos nossos vazios com a bebida. Era perigoso estar à mercê de nossos desejos mais íntimos e sensações, envolvidos no agora, no real. Já não havia mais tanto espaço para os sonhos. Ingênuos, ríamos de nós mesmos e usávamos dos mais antigos jogos para nos distrair. Fosse verdade ou só fruto da minha imaginação, você parecia me provocar. De repente, nos encontrávamos perto demais, sua face roçando a minha, seu riso perto demais dos meus ouvidos, suas mãos me tocando. Cada toque seu era como consumir uma droga altamente estimulante. O mundo real havia ficado tão distante, a música há muito deixava de existir, as outras gargalhadas silenciavam-se pouco a pouco. O ambiente agora era um grande borrão negro e você era o único ser que permanecia, nítido, real. Eu te puxei pela mão. Nos primeiros instantes você pareceu hesitar, depois me seguiu, cego. Para onde eu estava indo? Não sabia. Uma única réstia de consciência piscava fraca, longe, mas eu podia enxergar bem o que ela dizia: longe dos olhares dos outros. E caminhávamos sérios, já não havia mais risadas. Você compreendia que estávamos tomados pelo desejo de sentir. Abri uma porta, estava escuro como o breu. Os outros, embriagados, nem notaram nossa ausência. Entramos e, naquele instante, qualquer destino que um dia fora traçado para mim, mudou drasticamente.


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Ps: Influências negativas de Álvares de Azevedo e uma tarde sem nada para fazer.

sábado, 24 de abril de 2010

Aos meus iguais, minhas lágrimas

Por que matam os peixes?
Na angústia do nada – eu sinto.
Sinto seu cheiro pútrido de coisa morta que não quer morrer.
Seus corpinhos atirados na carcaça de um barco qualquer, onde homens trabalham,
Indiferentes.
Na desesperança de meus olhos úmidos, há o ódio daqueles que suas vidas privaram.
Com que direito?
Com que direito tiro-lhes a vida para tirar-me a fome?
Silenciosos, os peixes não sobrevivem da minha piedade.
Entre seus iguais, fluem e vivem da ausência.
Eles não sabem,
mas ainda posso sentir o cheiro de suas entranhas derretendo em óleo quente.

O mar

Em certo navio velejava um velho marinheiro. Bigodudo e teimoso, jamais dispensava seu chapeuzinho azul e suas canções tristonhas. Vivia só, à mercê do mar. De vez em quando, perdia-se em lembranças terrenas. Boas sim, mas que enquanto duraram não o haviam satisfeito. Quando mais jovem, ao descobrir o mar, decidiu que seria este seu único destino. Sua família insistia –“Fique conosco” e sua irmãzinha de olhos chorosos suplicava – “Seja racional irmão, que vida você levará perdido, sozinho, em alto mar?”. Sonhador, ele não os dava ouvidos, o mar já o havia cegado, seria este seu caminho. Que pudesse ter mudado de idéia, escolhido outro destino, mas não, pois sabia que, assim feito, mais tarde arrependeria-se. Um tempo depois, tomou sua decisão. Levando seus poucos pertences comprou um pequeno barco e, assim, iniciou sua jornada. Por duas vezes, em conseqüência de uma forte tempestade, foi lançado de volta a terra, contudo, retornou ao mar. Por duas vezes perguntou-se se o destino não estaria tentando destruí-lo aos poucos ou se, de fato, isso não passasse de um aviso de sua família. O marinheiro solitário perguntava-se – “O que o levava a tomar as decisões que tomava? Porque não teria escolhido uma vida menos arriscada?” Ele não sabia, mas não achava que não saber implicava em desistir. Talvez fosse só um marinheiro tolo a assobiar músicas tristonhas. Um tolo à mercê do mar.


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Para Stephanie, que me ensinou a pensar na vida metaforicamente <3

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Drogas

Um vento gelado batia em seus cabelos longos e suas roupas certamente tiradas de uma revista de moda dos anos 80. Os pensamentos vagavam em sua mente como bolhas, em uma fração de segundos estouravam umas e criavam-se outras logo em seguida. Como num filme rodando rápido, rápido demais, ela balançava seus cabelos à medida que a música tocava. Tocava dentro de si, cada vez mais alta. Tão alta que ela sentia como se seu cérebro fosse explodir a qualquer momento. Diversos instrumentos gemiam e arranhavam e, ao fundo, uma repetitiva e incansável batida eletrônica. Sua mente girava e cada parte do seu corpo tremia, em uma mistura completamente divergente de medo, êxtase e depressão. Após inabaláveis segundos que mais pareceram horas, ela percebeu seu real desejo. Necessitava gritar, colocar para fora tudo. Toda aquela agonia que foram os últimos anos de sua vida. Queria vomitar a inútil esperança que lutava em permanecer dentro de si, como se, por todo aquele tempo, ela só a tivesse enganado. De repente, uma lágrima rolou. Seu rosto ardeu como fogo em brasa e, erroneamente satisfeita, ela percebeu que aquilo era o fim. A música parou. Então, como se tivesse levado um soco, todo seu corpo foi jogado ao chão. Caiu estatelada, no chão frio e úmido, porém, inesperadamente ele a acolheu, como se permitisse uma sucessão de lágrimas que afinal viriam. Pela primeira vez em oito meses, ela podia chorar novamente.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

silêncio

As palavras estão em conflito comigo nesses últimos tempos. Nada que escrevo parece, nem o mínimo, aceitável. A única coisa que desejo é aumentar o som no último volume - um solo extasiante de baixo - até eu ensurdecer. Aí então eu experimentarei o silêncio infinito e quando essa hora chegar, você pode acabar comigo, pois estarei exausta de viver essa vida que finjo ser minha. Sinto-me disposta a aceitar qualquer desafio que me apresentarem, pois estou necessitada. Loucamente necessitada de um objetivo, qualquer que seja ele. Passei a qualificar todas as coisas em "leves" e "pesadas" desde que li Milan Kundera (uma espécie de transtorno obsessivo compulsivo) e hoje me sinto pesada, tão pesada, como se a qualquer momento fosse cair e nunca mais conseguir me levantar. Minha garganta está seca. Preciso abraçar ventos gelados para sentir a dor aguda que é ser - ou deixar de ser. São nesses momentos que penso que seria até legal crer em Deus, e me agarrar a ele em meus momentos de conflito, não às minhas frias ilusões.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Já faz tempo eu queria dizer palavras ao vento, sem pensar. Eu queria que soubessem do nervosismo que é estar esperando. Entre um ponto e outro. Escolhas.. escolhas.. para onde vão me levar? Sinto - a esperança retornou. Que assim seja, por mais angustiante que pareça, hoje aceito minha condição de esperar. Deixo as palavras rolarem, saírem de mim. Confusas, abstratas. Deixo me levar em seus braços, que tente me transformar. Estou me permitindo viver o presente, sem pensar mais do que o necessário. Já estou farta de demonstrar meu sofrimento, meu drama particular. Eu quero a esperança de óculos. Uma linha e uma agulha para que, assim, eu remende, costure e recrie: meu coração.

sábado, 27 de março de 2010

Eu só queria poder me entregar; de olhos fechados. Mergulhar em águas profundas, sem medo de perder o ar. Fugir um pouco de mim. Nunca mais pensar em mais nada, em mais nada.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Amor Platônico

Não me faz sentir bem; ao contrário, me deprime. Quando sou reconhecida aí parece o paraíso. Tudo flui, o coração bate mais rápido, a vida parece gritar. Quando você toca em mim? Não há meios de explicar que não sejam metafóricos e nenhuma metáfora consegue ser tão intensa. Não é como um sonho, é um sonho. A realidade me destrói de tal forma que, às vezes, tenho vontade de nunca acordar. A noite é meu refúgio, meu paraíso particular, são os unicos momentos em que você só existe para mim. Momentos em que sua existência baseia-se na minha satisfação. Há quantas noites você me completa? Há quantas manhãs acordo deprimida, desejando que o sonho seja a realidade, e a realidade.. um mero pesadelo? Quando exalo seu perfume, inexplicáveis reações químicas ocorrem dentro do meu corpo e me sinto vazia, nula. Amor platônico é tão mais triste que o amor recíproco, e também mais forte, mais intenso. Pesado, tão pesado, que penso que seja essa, não mais a distância, a principal diferença entre ele e a reciprocidade amorosa. Me pergunto o que me leva a persistir nesse sonho. Seria mais simples conter as esperanças, mas isso não é humano. Talvez o meu segredo seja esse: eu gosto de me descobrir em você. Me desculpe, eu ainda não superei.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Às palavras

Hoje percebi que não há amigas maiores que as palavras, pois elas são as únicas que me deixam manipulá-las sem desejar a mínima coisa em troca. Muito obrigada palavras, por serem o único elo, a única ponte entre esse corpo vazio e meu verdadeiro eu.

A Falta

A falta que me faz estar no nulo. Não querer, não gostar, não aceitar. Aqueles dias em que o que prevalecia dentro de mim era a ángustia. Sair sozinha na noite escura sob o luar, quando meu companheiro mais próximo era o medo. Aquelas noites frias em que nada mais fazia sentido. Nem o azul era mais azul. Por que haveria de ser? Quando a borboleta branca representava a dor, não a paz. A falta que me faz correr riscos, chorar. Há quanto tempo não choro? Não sei. Parece doentio ter saudades da dor? Seria masoquismo abraçá-la mais uma vez? Talvez não faça sentido para você, mas dentro de mim, o macio pertence tanto à dor quanto as lágrimas nervosas pertencem à angústia. Os opostos parecem sempre andar paralelamente. Juntos, tão juntos, que são impedidos de se tocar. A falta que me faz toda aquela repulsa, todo aquele ódio e toda aquela tristeza. A falta que me faz desejar unicamente estar só, pois agora vivo bem ao lado dos outros. É insano, tão insano que tranforma-se em hilário. Assim como a falta de sentido me trazia mais conforto do que a aceitação. Um conforto incômodo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quando você tira o dente do siso

Estive pensando se esse título pareceria mais como um “manual de instruções” sobre o que fazer após essa operação. Bom, se pareceu, não foi minha intenção.
Lembro-me que, após ter retirado meus dois dentes do lado direito, minha dentista exclamou: “Que bom seria se todos os meus pacientes fossem como você! Isso é maturidade.” É claro que fiquei feliz, mas vou dizer para vocês a verdade, não concordei muito com isso.
A operação em si é mais ou menos assim, depois de milhares de picadas de anestesia em diversos lugares de minha boca, senti como se minha gengiva se transformasse num bloco molengo de borracha. Então, começou o que eu gostei de chamar de “mineração”. Vou explicar, durante todo o processo senti como se meu dente fosse um metal precioso que precisasse ser retirado da terra. Fico pensando se alguma vez os dentistas já se compararam com escavadores... Primeiro enfiaram na minha boca aquele instrumento barulhento e giratório que mais parece uma furadeira elétrica. Depois, quebraram meu dente em um milhão de pedacinhos e foram arrancando um após o outro com mais um monte de outros instrumentos. E, pasmem, até enfiaram uma chave de fenda enorme na minha boca! Durante a operação preferi imaginar que meu dente fosse um tipo de diamante e que aquela invasão de privacidade “bocal” não estava acontecendo, senão acho que entraria em estado de choque. A única diferença é que metais não sangram, mas preferi encarar a janela ao invés das gazes sangrentas que tiravam da minha boca. Ah, me lembrei de mais uma, acho que escavadores não costumam costurar a terra com um mini anzol de pesca para que ela cicatrize. Foi por tudo isso que eu disse que talvez não concordasse com a minha dentista. Maturidade? Acho que foi mais minha imaginação de criança que fez com que eu ficasse quietinha o tempo todo.
O mais legal (se é que sentir dor seja algo legal) acontece quando, já terminada a operação, o efeito da anestesia começa a passar. O lado direito inteirinho do meu rosto ficou dolorido, inclusive minha cabeça e garganta, enquanto o esquerdo parecia fingir que nada estava acontecendo. Incrível como pareceu que eu tinha duas cabeças!
Agora, como vingança, daqui quinze dias o lado esquerdo é quem vai sofrer um pouco. E juro que não, não mesmo, fiz esse texto para assustar as pessoas que ainda terão que tirar seus lindos dentinhos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

À minhas sete

Talvez pareça besteira o que eu vou escrever e até desnecessário neste momento, mas é algo em que estive pensando e realmente me comoveu.
Vou chegar logo ao ponto: tenho medo de perder vocês. E, sim, hoje isso pode parecer até um tanto improvável, mas é só que tudo passa tão rápido. Em menos de um ano estaremos no terceiro ano e, depois, puft. Quem sabe? É muito verdadeira aquela frase que diz que só passamos a dar valor às coisas quando as perdemos, e acho que todas nós já sentimos isso na pele, não é?
Perdemos coisas todos os dias, às vezes nem nos damos conta disso. Certos momentos perdemos até nós mesmas, antigos pensamentos e sensações. Mas há coisas em que paro e penso que seria incapaz de aceitar a perda. Quem seria eu sem as palavras amigas e fofas da Michelle? Sem os abraços da Renata, o bom-humor da Vivi, as risadas da Ju, as brincadeiras loucas com a Sté, as obsessões da Mari e as besteiras da Cati? Eu amo tanto vocês, nossas besteiras, como nos suportamos, cada uma com seus defeitos únicos e irritantes.
É tão necessária e importante como a amizade de todas vocês me amparam em alguns momentos que eu realmente tenho vontade de desistir. E eu queria muito poder dizer que será para sempre, porque é o que eu desejo de todo o meu coração, nunca me perder dessas meninas loucas e “brisadas” que tomaram uma parte tão essencial da minha vida.
Muito obrigada por serem como vocês são, com suas qualidades e defeitos. Todas, assim, tão diferentes.
E, se por acaso algum dia essa amizade acabar eu quero que saibam que ela é eterna dentro de mim, pois eu nunca poderei me esquecer de vocês.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

um pseudo-monólogo

Pode parecer que não, mas aprendi que algumas coisas não devem ser ditas. Algumas delas tornam-se desnecessárias, simplesmente porque ninguém às daria ouvidos se não eu mesma. O grande problema é que elas grudam em mim de tal forma que sinto como se fosse explodir se não mandá-las embora. Então, utilizo a antiga técnica de "escrever para aliviar a dor". Ás vezes acho tão patético quando pessoas escrevem usando metáforas para "disfarçar" o que querem dizer, quando, na realidade o que elas mais desejam é que as outras pessoas descubram. Bom, sou patética e só para não ser chata, inconveniente e falar demais sobre coisas que são muito prováveis de causarem arrependimento no final, lá vamos nós de novo.

Estranho como aquelas criaturas que mais desejamos esquecer são as que mais pensamos. Certa vez, alguém comentou que para esquecermos de alguém precisamos parar de tentar fazer justamente isso. Mas, bem, como todos devem saber não é algo exatamente simples e, se torna ainda pior, se você for uma criança pouco vivida e desacostumada com grandes perdas ou, simplesmente, se for uma pessoa extremamente sensível. Acho que me encaixo nos dois casos. Eu perdi uma pessoa com quem convivo todos os dias e isso não aconteceu porque deixamos de nos falar ou coisa do tipo, simplesmente porque perdi no passado. Obviamente, há explicações suficientemente razoáveis para que isso tenha ocorrido. Mas sabe quando não conseguimos aceitar? Talvez, ano passado eu devesse ter utilizado mais a escrita e menos a fala, assim sairiam menos besteiras de minha boquinha e as coisas não tivessem terminado desse jeito. Mas, no fim, quem sou eu para reclamar de que não é melhor assim? É um tanto clichê, mas dizem que nunca conseguimos esquecer o que um dia amamos de verdade e me pergunto se sei o que é amar de verdade. Claro que não, eu sou só uma criança. Então, me expliquem como coisas que deveriam ter ficado no passado não me abandonam e, como tudo o que digo, parece ser tão dramático quando, na verdade, é o que realmente sinto. E se todos soubessem como eu odeio me martirizar, como odeio não poder entender. O lado positivo é que meus tormentos me ensinam novas lições a cada dia. Coisas como mastigar as palavras que tenho vontade de dizer, como a falsidade às vezes é melhor do que se fechar em uma bolha horrorosa, que apesar de muitas vezes parecer, não é a melhor opção se desejamos conviver amigavelmente com outras pessoas. Como sinto falta de algumas fases que tinha dito serem as "piores" e como sei que quando essa acabar eu também sentirei. Sentirei falta de crescer.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Enjoada

Eu estou desesperada. Desesperada, por que não consigo mais encontrar palavras para começar, porque só consigo viver quando me distraio, porque só consigo esquecer quando não me calo. É só tudo parar por um instante que entro em conflitos comigo mesma, que passo a me perguntar o quanto tudo é necessário, que esqueço de que o mundo inteiro não gira em torno só de mim. Cansei de viver para me satisfazer, encontrar meus prazeres e aliviar minhas dores. O mundo parece assim, tão apertado, tão triste. Apesar de que eu gosto da tristeza, mesmo que digam que ela não é boa. Mas, afinal, o que seria da felicidade se não fosse a tristeza? Só não digo que gosto da dor. Não, dela não sou capaz de gostar. Hoje à tardezinha eu perguntei à mim mesma porque eu não podia deixar tudo ficar bem, pois, agora, não há grandes razões que impeçam isso de acontecer. Acontece, acontece que um pedaço de mim teima em não largar o passado. Esse negócio de tentar me convencer não adianta, acho que só adianta para as pessoas que sabem fazer isso direito. Bem, eu não sou uma delas. Eu tento e não dá certo. Parece que tem uma porta de pedra obstruindo a passagem do esquecimento. Talvez seja necessária uma passagem para o esquecimento entrar e fazer esquecer. Mas, enquanto isso, vivo no mundo da distração. Até ficar só. Sabe, gosto de ficar só. Chama-se solitude e me faz tão bem. Ou antes, me fazia. Agora me retornam as mágoas, e elas ficam a retornar e retornar. E, quando menos espero, já estou chorando novamente. Eu gosto de chorar para aliviar a dor, mas não gosto quando sei que é desnecessário e as lágrimas são à toa, por mera lembrança. Se o esquecimento pudesse entrar, eu não choraria mais pelo leite derramado, e acabariam-se as lástimas, os arrependimentos e as dores desnecessárias. Mas se... Se... E não descubro o que é a porta de pedra. Talvez seja o tempo, aí não há nada que eu possa fazer. Mas tudo demora demais e eu canso. Só não desisto porque tenho coisas que não me fazem desistir. E essas coisas não são esperança, nem fé. Não gosto mais da esperança porque passei a vê-la de modo negativo, e sim, isso é um preconceito com as outras esperanças. E fé eu não tenho mesmo, apesar de às vezes achar que deveria. Acho ruim ser descrente demais, mas nunca encontrei nada que me fizesse dizer – eu creio. Um dia me disseram que sou dramática demais. Sou sim. E sentimental também. Às vezes surge meu outro lado e diz – Cara, como você é chata. Sabe, eu concordo.