tag:blogger.com,1999:blog-62941721025100513572024-03-13T01:07:10.998-03:00Pensamentos num tsuruUnknownnoreply@blogger.comBlogger68125tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-6504022592149817482012-05-22T22:04:00.001-03:002012-05-22T23:10:23.360-03:00O homem que sentou ao meu lado no metrô fede a alcool e urina. Ele balbucia palavras e palavras inentendíveis e me enlouquece porque é louco e eu também sou. Depois, passa o dia como passa o pernilongo pela orelha. Escuro, então. Nunca esperei tanto por alguém porque tenho medo de minha falta de paciência ser motivo de mágoa. E acabou sendo mesmo. Só que pra mim. Volto sozinha, o que me resta é estar sempre sozinha no meio desse tudo. Penso isso, penso também que meu poema só por ser ritmado não basta; ele não diz tudo que eu tenho pra dizer sobre a solidão. Há mais coisas,
como a sacola plástica do "Frango Assado" nas mãos daquele outro homem. Ele está feliz e segura um franguinho morto. Franguinho morto, franguinho morto, franguinho morto. A mulher dos cabelo amareladamente tingidos também é uma dessas coisas da solidão, ela diz a mulher de unhas compridas e de sapato de bico sobre o chocolate que a vadia do seu departamento deu praquele outro outro homem que ela chamou de amor. Daí ela gritou e comprou um chocolate maior. A mulher de unhas compridas quase bateu palmas pela digna atitude. Eu fiquei chorando mesmo, porque só sei fazer chorar. É choro pra tudo que ninguém mais me aguenta. Também hoje, depois do homem que fedia a alcool e urina, vi um bebê pretinho segurando os dedos de uma velha bem branquinha, e foi tão bonito que até chorei. Penso nas crianças sempre, porque são elas que me fazem sobre-viver. As crianças devem se lembrar do franguinho morto quando ninguém mais se lembra. Tenho medo, também, de um dia esquecer.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-55895099334445180992012-04-02T15:04:00.004-03:002012-04-03T01:29:34.252-03:00Acima de nós a escuridão nos engoliria. Dentro, o silêncio. Em sua completude não nos levaria a angústia dos que não tem voz, nem à distância ou a incerteza, mas a mútua compreensão dos que não necessitam de palavras. Seríamos apenas o que sabemos ser: dois corpos nus estirados num plano que agarra e não permite o voo. Nossas mãos se encontrariam, não porque quiséssemos, mas porque queriam. E meus olhos não se cegariam no abismo de seus olhos, nem minha boca cederia aos apelos de seus beijos, pois não teríamos face. Seus dedos percorreriam leve e incessantemente cada instante de minha nudez. E tremendo, sem voz, sem medo, você me arrancaria suspiros que viriam do desvendar de meus segredos. Então eu me permitiria navegar sobre seu corpo sem receio da beleza que, cega, antes me ferira. Nesse abandono e reconhecimento ambos seríamos náufragos e mergulharíamos no infinito do desconhecido. Transpassaríamos a fronteira de nossos seres até que se esvaíssem todas as inverdades: o eu se reduziria a tu e o tu a eu. Nossos corpos então dançariam até ascenderem-se aos céus e, quase no limite do mundo, o hálito do véu negro nos revelaria o sublime. Depois, viria a exaustão. Plainaríamos até o alcance do terreno numa quase morte e, no aterrissar, o corpo deixaria de ser essência. Eu me levantaria e cobriria minha nudez e voltando a vida recuperaria meu rosto. Meus olhos me trariam lágrimas, minha boca, sangue. Eu voltaria ao meu ser e se faria a porta que abriria, o ar que eu respiraria, o sol que me queimaria e outros seres que, na solidão, não me acolheriam. Você seria pó. O instante perdido, eterno, esquecido.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-2406053476756339692011-11-21T20:52:00.010-02:002011-11-22T20:40:57.495-02:00Muitas pessoas, pombos, chão e calor, tudo numa rua só. Aí me encontro, no meio dessa confusão com cheiro de gente e pipoca, e aí está ela também, ela que desconheço de intimidade mas conheço de nome: Maria Thereza. E passa devagar, dentro de um vestido verde florido, não sei se querendo ou não estar ali. Os outros é que não querem que ela esteja. Sei disso pois quem me conta é essa plaquinha branca dependurada no meio das flores do vestido, onde se lê: Maria Thereza – doente auditiva e cega. E leio: Maria Thereza - subproduto social. Maria Thereza - se pudesse ser descartada, há tempos já teria sido. Maria Thereza - produtora e consumidora inativa. Maria Thereza – esperando a morte que não chega e se não traz prejuízo para o governo, traz prejuízo para a família. Não sei o que o crachá grita mais, se é distância ou dó. Aqui tudo tem cheiro de pipoca e gente que espera ônibus e ônibus que não espera gente e tem a Maria Thereza, que todo mundo finge que não tem. O que eu queria mesmo era escrever por essa senhorinha, mas como poderia se o mundo que vê não é o mundo que vejo? Posso estar traindo todo seu viver se disser que enxerga escuridão se, em verdade, vê cores. Então escrevo para ela: Maria Thereza do vestido florido e dos passos pequenos, se este fosse meu mundo você não andaria com esse crachá e nem estaria aqui. Eu te levaria para um lugar bonito, junto dos meus sabiás e da grama com cheiro de chuva. Você, que sem me conhecer nem saber que existo, abre meus olhos que vivem sempre tão fechados. Depois vai embora, tão depressa, e eu fico assim a ver num instante o que os livros não contam, as pessoas não dizem e que o mundo tanto lutou para esconder de mim, de nós e dele mesmo.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-61329849223691008632011-09-14T21:54:00.004-03:002011-11-21T20:54:10.038-02:00frioO frio está tão bom - eu digo - o céu parece maior quando se está nublado, não é?<br />
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Eu caminho, passos largos, talvez querendo adiantar o final, não sei bem. O cabisbaixo não se atreve a rir e o risonho nem pensa em sair de sua humilde posição um tanto quanto inocente que se disfarça de bom senso. (Quanto falta de bom senso havia naquele pedaço de mundo que fiz no instante em que decidi seguir ao lado de vocês! Quanto distanciamento infinito disfarçado de aproximação!) Os segundos correm e eu digo para os dois lados de mim calarem-se.<br />
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Não tomem partido, eu sussurro. Não ajam impulsivamente. Não submetam-se a surtos artísticos.<br />
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Converse sobre o tempo.<br />
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(Estava escrito num livro que li que a única coisa que podemos partilhar com as pessoas é a preferência pelo mesmo tipo de clima, então, é o que faço.)<br />
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O frio está tão bom - eu digo - o céu parece maior quando se está nublado, não é?<br />
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Não parece. Eu é que quero voar e respirar esse ar rarefeito até que se ardam meus pulmões e eu caia no chão, estática, defunta. Pois, prossigo. Sendo fria com o calor e por demais acalorada com o que me vêm frio.<br />
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Então, sem querer, uma parte de mim vai embora. Estou descendo escadas rolantes e, logo em seguida, me encontro em frente a uma doceria onde há um bolo tão macio. Mas tudo que tenho em mãos é um chocolate barato, então, engulo o chocolate mesmo. Engulo-o de qualquer maneira. Não importa, a imagem do bolo faz-se viva naquele ato desgostoso.<br />
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Então morro e renasço mais uma vez. Me transformo em um único ser. Não me pergunto quanto tempo aquilo tudo vai durar, vivo pelo tempo. Pouco importa agora o frio. Pouco importa agora o bolo. Pouco importa agora o bolo. Pouco importa agora o bolo.<br />
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<i>"Que lindos olhos<br />
Que lindos olhos que você tem<br />
Que ainda hoje<br />
Que ainda hoje eu reparei<br />
Se eu reparasse<br />
Se eu reparasse a mais tempo<br />
Eu não amava<br />
Eu não amava quem amei."</i><br />
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(e fica a cantiga, até que se faça novamente o amanhã)<br />
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(seria pudim no lugar do chocolate, como fui bem lembrada, se não fosse demasiado estranho ter um pudim em mãos)Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-4356618062068909532011-08-29T20:51:00.001-03:002011-08-29T20:52:36.156-03:00O espetáculo do meu constrangimentoQueria escrever como Kundera mas percebo sua frieza e sem querer não consigo mais. Escrevo jorrando as palavras com ternura, buscando o que não conheço de mim. Antes eu fizesse apenas parte da literatura ou deixasse de me identificar com uma de suas personagens que amam sem amor, que controlam paixões e que se vandalizam para ter o que sentir. Mas vivo. E visto com paciência a máscara que criei, fingindo que suas palavras não me fazem querer ficar assim estática-apática para todo o sempre. No outro dia havia uma cortina tão bonita que nos protegia do sol e em meus braços um travesseiro que com ondas me pedia para continuar sempre a espera, respirando ofegante todas aquelas explosões internas que dizem tudo sem dizer nada. Eu escutei em silêncio e pedi: por favor não diga isso hoje! E no meu estado estático-apático eu sentia que meu corpo não era mais meu e pensava: então faça o que quiser comigo. Depois morri e quando acordei novamente estava só em casa escutando velhas canções que hoje não me fazem mais chorar. Já é tarde, tão tarde e, mesmo sabendo que só há o final, me recordo daquelas palavras: Eu aguentei por amor. E eu te disse: Agora você entende o que eu sinto. Os passáros ao nosso lado também sentiam, eu sabia disso, e as árvores e aquele meio dia cheio de cumplicidade. Mas depois vieram as cortinas e o travesseiro e a dor. E quando escuto sobre finais digo: não importa, hoje só quero me sujar de tinta vermelha e dançar nua no meio da rua. Quero escalar montanhas e soltar balões e pintar gatos brancos de cor de rosa. Eu quero cuspir no chão até que me cuspa inteira e deixe de existir me sendo. Por amor.Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-77600193533847734932011-08-12T22:59:00.000-03:002011-08-12T22:59:16.677-03:00Um dia já fui inteira feita de palavras e lágrimas. Agora não choro mais que não seja de felicidade e não escrevo mais que não seja por compaixão pelas palavras que habitam em mim. Elas me contam sobre saudade, e eu digo a elas que saudade é esperar que a farinha se refaça em grão, como um dia já te disse que Mia Couto me contou. Outro dia me contaram sobre as tardes em que colhia rosas recordações com cheiro de mel e guardava momentos em folhas perdidas. Sobre as noites que Camões surgia, nu, e as mãos tinham medo. Achei bonito pois me disseram assim: naquelas noites, lutávamos para manter estável o que já nascera destruído. Acredito que tenham razão. Agora elas não voltam com muita frequencia, se transformam em nuvens e me tiram o peso de pensar. Assim está tudo bem. Digo e repito repito repito. Está bem porque aprendi a fingir sorrisos, a contar mentiras e a esconder de mim mesma aquilo que eu gostava de chamar de amor. Eu perdi uma parte inteira de mim e foi quase tão fácil quanto acreditar em fadas.<br />
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-55843039792438431082011-06-21T18:04:00.000-03:002011-06-21T18:04:57.237-03:00Sobre um finalO tempo acabou. O sol é tristeza e a tristeza é salgada. O existente inexiste. O que há já não há mais. Foi-se tudo o que um dia era. Acabou-se no descompasso do ciclo antes desrritmado. Me tingem de azul, é a cor que resta. E o que não foi acertado jamais se acertará.<br />
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Você acreditava no mais tempo e, eu, que havia vida. O que há agora além de observar em silêncio? Um pote vazio, transparente, inexato, morto.<br />
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Mas sigo sem saber, tenho de seguir. Deixar que as nuvens continuem a ser nuvens. Tenho de seguir.<br />
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Não sei mais se sei respirar. Os carros passam, os deixo passar. E existe um homem, ele tem barba e toca violino na janela. Há um outro que também tem barba e deita na grama. Eles não se conhecem. Eu não os conheço. Existir e deixar de existir. Passar do sol para sombra e da sombra para o sol arrastando a bunda nas pedras e estragando as calças.<br />
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Acabou-se pronto fim. O que há de se fazer além de observar em silêncio? A vida não vai de ser vida. O tempo não acabou. Eu quero acabar mas também não acabei. Que seja, assim, onda.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-61472240397396792482011-04-29T13:28:00.003-03:002011-04-29T16:39:52.940-03:00(Ir)realidadeA chuva cai forte lá fora e faz com que os reflexos da televisão sobre o vidro fosco da janela tornem-se um tanto quanto poéticos. Dentro da sala, as paredes frias assistem novamente ao espetáculo insano que é o desejo do homem pelo homem, nesse caso, da mulher pela mulher. Nem é noite ainda, mas já está escuro. Dentro do espetáculo eu pareço personagem, porém, ao lado das paredes, faço-me espectadora. A irrealidade presente na presente realidade faz com que aquela belíssima peça de teatro não deixe um instante de parecer puramente ficcional, ou então, por meus pensamentos estarem como que flutuando pelo aconchego do velho cobertor puído ao invés de onde deveriam, fruto do uso abusivo de alguns quilos de drogas alucinógenas. Porém, no meio disso tudo, não parece haver certo ou errado, pelo contrário, esse tipo de julgamento nem ao menos considera tomar espaço nesse meio ilusório. Espaço o tem os toques, assim, de mão com mão, que espantam o frio de tanto que o coração insiste em bater mais rápido como se tudo aquilo fosse uma primeira vez e, sendo, estes, pequenos filetes mágicos, abrem portas para o mais e mais e mais, infinitamente. Assim eles se sucedem sempre magnificamente únicos, inusitados e minimamente planejados. Assim, eles abafam qualquer característica racional ou sensata que já não fora abafada pela chuva, pelo cobertor ou pelo filme que passa na televisão e eu finjo assistir. A intensidade é como um mergulho gradativo.Aumenta-se a intensidade, mais perto chego de alcançar as belas profundezas marítimas, e, enquanto não as alcanço, vou incessantemente submergindo. Quanto mais mergulho, menos me dou conta de que estou mergulhando, causa da mudança de pressão sobre meu cérebro juvenil e despreparado. Mas é bonito e azul o caminho, então prossigo. Algumas sensações provindas do toque e da intensidade me lembram gangorras vermelhas que sobem e descem, outras, luzes amarelas e azuis de um show banhado a muito álcool barato e caixas de som desreguladas. Parece infinito o mergulho, e é exatamente o que eu quero que ele seja, mas não penso isso, só sinto. Num dado momento, porém, tudo para. O ser humano afasta seu corpo do corpo do outro ser humano e acontece um daqueles repentes que fazem arranhar na garganta um eu-te-amo que não pode mais ser dito por regra geral de acordo mútuo. Os olhos olham nos olhos dos olhos e acham que querem chorar mas não podem, pois essa proibição também está contida nas letrinhas miúdas desse mesmo acordo. Então os corpos se abraçam e amam-se assim, mesmo diante do proibido que está no falar, diante dos curiosos espectadores e dos seres que habitam eles mesmos e discordam desse amor. Afinal, a irracionalidade, quando diz respeito ao amor, pode ser o único caminho racional em uma quinta-feira onde a chuva cai forte lá fora e faz com que os reflexos da televisão sobre o vidro da janela tornem-se um tanto quanto poéticos.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-39703580032006920742011-02-01T12:40:00.001-02:002011-02-01T12:47:45.917-02:00Sobre não conseguirColocam-se duas palavras num pote de plástico: Não. Consigo. <br />
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Assim faz-se o primeiro e único passo necessário para a falência. <br />
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Diz-me em voz alta: NÃO DESISTA. Sinto muito se abaixo os olhos, pois parece-me impossível. Não estou dizendo que a resistência é racional, estou somente contando-lhe sobre essa parte que me impede. Essa parte de mim que não me permite ser o que sou e sentir o que quero sentir. Assim como alguns se tornam incapazes de partir, de beijar, de amar, de sorrir, eu... Eu não tenho capacidade de me tornar capaz. É uma gigantesca contradição, sabe disso. É um tête-à-tête infinito que mantenho comigo mesma. A mente conturbada parece impedir-me de continuar tentando, como se, incessante, uma nuvem negra gritasse em meus ouvidos: Corra! <br />
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Ao invés disso, me escondo.<br />
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Escondo-me com o mais intenso desejo de lançar o pote de plástico contra a parede e berrar: CONSEGUI SEU FILHO DA PUTA!Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-28883666284813141802010-12-21T19:55:00.002-02:002010-12-21T20:02:05.701-02:00À mim e à sujeira da parede.Me deu vontade de escrever pra você. Posso sair escrevendo por puro êxtase momentâneo? Não quero falar sobre você, sobre mim, sobre nós, sobre nada. Quero falar sobre flores. Explosão de flores. Me conte algum segredo que ainda não sei. Me conte. E te contarei um que ainda não sabe também. Ele tem cheiro de flor, gosto de flor, mas não é flor. É explosão de flores. É mais ou menos assim: você escala uma montanha alta, bem alta, e nunca chega ao topo. Depois desiste e desce, só pra perceber que nunca teve topo. Eu estou parada no meio do caminho, você está parada no meio do caminho. Você vê o topo, você deseja o topo. Mas ele não existe. Triste realidade, não é? Enquanto isso eu colho as florzinhas rasteiras que encontro pelo caminho. Eu vou colhendo, em silêncio, sem nenhum objetivo além do de ter as flores cheirando doce em minhas mãos. As pessoas copiam o perfume das flores, acho engraçado. As pessoas gostam de dizer que são os animais superiores mas copiam tudo dos outros seres, tudo. São os animais mais bobos e sem a menor originalidade, é isso que são pra mim. Mas não vem ao caso. O caso é que você crê tanto tanto tanto tanto ver um topo que não desiste em tentar escalá-lo. Eu vou atrás, sabe? Só por curiosidade mesmo e por prazer também. Quero ver até onde você chega nessa sua busca desenfreada. De repente vem uma mosca e puf, pousa na sua mão. Você tira a mosca, você ri da mosca. Mas olha, os átomos dela ainda estão em suas mãos, e agora? Você é meio homem - meio mosca? Ou então, 99,9999% homem e o que resta - mosca. Não te assusta e nem te incomoda. Me assusta e me incomoda. Você tem mãos de mosca, suas mãos sãos 35% mosca. E eu inventei esse número sim, pois gosto de sair inventando. Sabe eu sempre - odiei - as moscas, mas nunca dei o valor necessário a elas. Parece que, de uma maneira ou de outra, elas sempre estão lá me avisando: Não há um topo na montanha, não há um topo na montanha, não há.. e eu vou lá e mato-as. Mato-as sem a menor dó. Aliás, mato com prazer de matar um ser que me incomoda só por existir. Triste, não é? Triste. E ainda temos a capacidade de nos considerar melhores que alguma coisa, impressionante. Olho pro chão e lá estão minhas flores, sabe o que elas me dizem? Suba a montanha, suba a montanha. No final, eu sempre soube que elas seriam traidoras, mas ignorei esse fato por serem assim... demasiadamente belas. E olho para elas e sabe o que faço? Acolho-as todas em meu coração - todas. Por que? Vá, me pergunte. Porque sou cega e gosto de acolher o belo pelo belo sem ver que há mais escondido. Tudo bem, isso se chama ser bicho-homem. O lado bom de tudo isso é que há amor. Não entendo - com toda sinceridade que há no meu coração - o porquê das pessoas muitas vezes dizerem que o amor é ruim, que o amor dói, que o amor isso, que o amor aquilo. O amor é a única certeza. É a única certeza de.. que há sentido bonito por trás das coisas feias. O que nós fazemos com o amor é que dói, é o ruim, nós nos machucamos e depois dizemos: Ah, pelo menos aprendi e.. Pare de se enganar! Não há topo na montanha. Então beije as moscas, beije como se fosse juntar-se a elas, você está certa, seja meio-mosca. Eu sou meio-flor - estupidamente tosco. Mas verdadeiro. Ame as moscas, ame seu próprio corpo e o chão sujo da rua a ponto de esfregar-se nele até sangrar. A beleza é relativa. Ei, o topo da montanha também é relativo, não é? Sinta-se nua de razões e simplesmente exploda. Vá, tente agora - exploda. Explodir faz bem pra tudo, você se recompõe e alivia a dor que é viver. Eu perdôo. Hoje eu perdôo a explosão. Também perdôo você, as moscas, o chão sujo, as flores e o topo da montanha. Perdôo tudo, menos as mentiras que crio para aliviar minha dor.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-74730938288399967822010-12-05T21:09:00.003-02:002010-12-05T22:08:22.110-02:0025 de novembro.Chovia, chovia, chovia.<br />
Você não deve se lembrar, mas pouco importa.<br />
Um dia a nuvem seca e deixa de explodir-se em contentamentos libertários.<br />
Então, será a minha vez.<br />
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<div style="text-align: right;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhv0VwbibivM9isn1XEdFlE71fAseQIiNjJ7Ldu7edQYgVKb-GhleKCEdoFKqcQ-5J80noK1h2Ql1mKdYdh2ZTdll3KSe2SFsCix7JxqIvsZmezK8d0hHmFY9MwPxvfeoOVWN_v7nxwx0cs/s1600/chuva.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhv0VwbibivM9isn1XEdFlE71fAseQIiNjJ7Ldu7edQYgVKb-GhleKCEdoFKqcQ-5J80noK1h2Ql1mKdYdh2ZTdll3KSe2SFsCix7JxqIvsZmezK8d0hHmFY9MwPxvfeoOVWN_v7nxwx0cs/s320/chuva.JPG" width="320" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-53883766070166831522010-11-03T14:26:00.010-02:002011-08-29T23:06:04.435-03:00Na selva de pedraVoltava da escola cabisbaixa, isenta de pensamentos concretos e emoções. Todas as voltas eram assim. Sol escaldante, chão de concreto. Olhava meus pés desejando ter barbatanas, que a calçada fosse um rio e, os carros, peixes. De repente ouvi gritos do outro lado da rua: um casal brigava. Havia policiais em volta deles e um bebê era apertado contra o seio da mãe que berrava, soluçava e arrancava os cabelos. O homem tentava argumentar, a mulher gritava ainda mais. Então, ele decidiu partir para a guerra verbal também. Choveram palavrões e curiosos, que paravam no meio da calçada só para observar. Que tristeza, que decepção! Dia errado eles escolheram, eu pensei. Justo nesse momento de vida que desconfio tanto da raça humana que chego a desejar ter nascido um molusco. Nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhum sinal de vida que não fosse humana, nenhuma mostra de que eu deveria me satisfazer com o que estivesse ao meu redor. O casal gritava, os curiosos observavam. Eu apressava meus passos, desgostosa. E os desgostos passaram a brotar na minha mente, como pipoca estourando na panela. Pensei nas pessoas sempre em busca de mais, de mais, de mais o que? Bens, dinheiro,inutilidades, paixões passageiras, experiências vazias. E me espanto, pois sou uma dessas pessoas! Não queria ser. Digo aos outros que quero sair da sociedade, peregrinar por aí, sem rumo, atrás de um sentido qualquer, de uma liberdade irrestrita. Não vejo sentido algum em permanecer. Algum dia, talvez quando esse casal escandaloso já estiver jazendo sob a terra, eu partirei daqui para sempre.<br />
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<i>Tenho que dizer que estou sendo influenciada pelo livro/filme "Na Natureza Selvagem". Que, aliás, todos deveriam ler e assistir.</i><br />
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Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-19830495754789338872010-10-15T09:36:00.003-03:002010-10-15T09:39:27.960-03:00Sentidos, conflitos, repetições.Não quero fazer sentido. O sentido, às vezes cansado, toma a forma da falta de sentido. Dissimulado. Eu não sei, você não sabe - apesar de fingir muito bem saber. E o tempo vai passando. As semanas parecem dias e alguns dias parecem semanas. As ideias se vão como pombas assustadas no meio daquela praça suja. E voltam. As cores se perdem. E voltam. As palavras se perdem, as vontades se perdem, as manias, os amigos e os enfeites de cabelo. Nem tudo volta. Assim vai se seguindo sempre, minha única certeza é não ter certeza. E achar que se ama e que não se ama e que se ama independente de qualquer dependência. E vai se o vento, voando, voando alto. Balança a cortina branca. Sim, a mesma que contra luz tornava-se toda amarelada e fazia a silhueta das grades do portão. Os sentimentos às vezes são tão banalmente criados que confundem os verdadeiros. Eu escrevo, sem pensar nas palavras. Pensar... Pensar cansa. Pensamos demais. Demais. Tudo em excesso faz mal, até amar. A gente acaba se acostumando, fazendo virar rotina ou obsessão. Depois vem a dor. Ela se vai - pomba. E volta. Não ligo mais pra ela, apesar de às vezes a chamar um pouquinho. Só sei que, ao menos dessa vez, estou consciente das minhas escolhas.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-24010693266265299662010-10-04T20:32:00.003-03:002010-10-04T20:40:24.655-03:00Falha tentativa de racionalizarDei sorte, o ônibus hoje está vazio, as pessoas tranquilas. Por fora há paz. Dentro de mim as palavras correm como água escorrendo do vaso derramado, por vezem param, outras, gotejam como numa pia mal fechada. Voam, voam sem perceberem que não tenho às minhas mãos uma única folha de papel. Então fecho os olhos e o texto todo vai se formando na minha cabeça. Para que? Se apagar segundos depois e perder-se para sempre? Água suja, descartada. Percebo que o que há de real torna-se todo irreal. O lugar agora me parece antigo, vermelho. Então me sento numa poltrona de veludo e uma banda toca o mais bonito que há na música. Jazz. E desejo tão, tão profundamente não ser uma mera espectadora. Queria estar ali, sobre aquele palco, com um saxofone nas mãos, fazendo surgir de mim mesma o divino. Abraçando o mundo com a minha respiração e fazer do meu ar, do meu sopro de vida, a música, na sua forma mais pura de ser. Ou então cantar canções. Cantar. Me aperta tão forte esse desejo de estar além de mim, que meu corpo se sente sufocado, as lágrimas caem. Uma após a outra. E sinto novamente aquela sensação, aquela certeza de que não nasci para pertencer à humanidade, nasci para pertencer ao mundo. Sentir a terra vermelha sob meus pés descalços, abraçar a chuva e juntar com ela o meu lamento. Arrancar meus cabelos num grito de desespero, rasgar-me e sentir que estou viva, só para depois me recolher dentro de mim mesma e transformar-me numa sementinha quase invisível. Queria entender o que sabem sobre mim. E eu, o que sei sobre os outros? Eu não sei. E dizem que se estivessem no meu lugar agiriam de forma diferente. Forma diferente? Não sabem como é a sensação de me ser, não sabem os caminhos que trilhei e as decisões que tomei. Não há nada mais feio que julgar. Mas julgo, também julgo porque sou humana. Queria não ser, é bem verdade, mas que outra escolha me resta? Queria sentar-me entre as folhas e camuflar-me de verde. Ou velejar num barco pequeno pelos aléns dos aléns que hoje nem sei se existem. Ou quem sabe tornar-me um cão peludo e pulguento, vadio, buscando restos de alimento entre os sacos de lixo na rua? Mas de que me adianta sonhar com o impossível? Diga-me, então, para racionalizar. Eu tento buscar um sentido e às vezes chego tão, tão próximo... Nunca o suficiente para contar a alguém. Então vivo em devaneios, à espera que o sentido volte, mas ele nunca volta quando o busco. Às vezes em segredo, durante sonhos, sussura em meus ouvidos; ou quando há música, ele sempre volta quando há música. Esforço-me para entender que ninguém é igual a ninguém e aceitar o mundo que vivo. Não aceito. Os outros querem ser sempre mais que os outros. Eu não quero ser mais que ninguém. E também não quero abandonar o hoje, o agora, para prevenir meu futuro de dores. Me chame de imatura. Dê tapas na minha cara. Vou sempre dizer que você tem razão, pois tem, tem mesmo. Sinto muito, mas não aceito a razão. Não é isso que pedem dentro de mim. Pedem sempre que eu sinta. E se eu errar? Vou errar. Estou errando, olhe. O que me resta, então? Viver de prevenções para depois.. depois o que? Depois morrer? Não peço que concordem, nem mesmo que me escutem. Escutem a música só, é a única coisa que faz sentido. Viro-me de lado e volto à realidade. Um ônibus sujo, um livro nas mãos, as lágrimas rolando. Realidade essa a que eu me submeti ou outros me submeteram? Não importa. A água já está toda suja.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-84407362512027080222010-09-27T19:37:00.001-03:002010-09-27T19:37:40.768-03:00SinceridadeSentaram-se. A tarde mal-humorada aos poucos se despedia de sua observadora plateia e partia, cobrindo-se de nuvens cinzentas e deixando lugar para a noite que, exibicionista, já reclamava seu espaço. O banco era frio; os rostos próximos. Já chegava a hora de partirem, mas para que, afinal? Então permaneciam. Não havia palavras, tampouco risadas, carícias ou olhares. Havia uma espessa massa de ar embolorado que saía de dentro pra fora, ou seria de fora pra dentro? E consumia cada pedacinho daqueles seres que, silenciosos, aguardavam. A última réstia de luz já tinha ido embora há uma ou duas horas e o vento ia e vinha, incessantemente, balaçando as folículas daquelas plantas de vaso de lá para cá e de cá para lá. Imóveis e silenciosos, os dois permaneciam. O único movimento vinha de dentro deles, forte, rápido, constante. Uma troca de palavras. Esperança desesperançosa, ingrata. O céu já estava tomado de pontinhos brilhantes e uma bola branco-amarelada envolta em fiapos de luz quase transparentes, era a noite exibindo tudo o que tinha de melhor. Eles davam as mãos, e isso era tudo que tinham de melhor. Dar as mãos, puro ato provido de vida. E as mãos tremiam, suavam frio, até elas estavam cheias de medos, incertezas e angústias. Um raio lampeja no céu, obviamente querendo provar que brilha mais que todas aquelas ingênuas estrelinhas piscantes. Eles se entreolharam. Em questão de segundos o pátio começa a girar, primeiro de um lado, depois de outro. Mais raios caem do céu, estonteantes, e surgem brilhando, brancos, azuis, amarelos, verdes e alguns até vermelhos. Os dois corpos permanecem em intensa sintonia. De repente tudo para. Um dos seres respira o ar como se fosse inspirar o mundo, então o pátio volta a ser pátio e o céu volta a ser somente um cobertor de estrelas. Eles se entreolham novamente, o chão frio de pedra parte-se no meio e ambos sentem um estranho aroma úmido de chuva. Estão num rio. Transformam-se, então, em peixes, um vermelho e outro branco. Nadam frenéticamente deixando-se levar pela correnteza que os puxa, cada vez mais forte. Piscam os olhos, uma, duas vezes. Novamente o primeiro cenário se reconstrói. Silenciosos os dois partem, quem sabe se para nunca mais voltar. O pátio permanece frio, seus bancos e plantas reclamam solidão. Solidão sem dor. O que resta aos seres é a plenitude. Só isso. Fora embora a angústia, o medo e a incerteza do desejo reprimido. O que restou foi um quase alívio do sedento que encontra a fonte de águas transparentes. Um dos seres caminha junto às gotas de chuva que respingam em seu rosto. Então, para e olha para a palma de sua mão. As linhas traçadas parecem mais fortes e ele acredita que, sendo obra do destino ou não, dessa vez eles haviam acertado.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-7794168666219768612010-08-17T12:34:00.004-03:002010-08-17T21:55:59.787-03:00Flores de plásticoVocê não sabe tocar, mas senta-se à frente de um piano e bate nas teclas do jeito que bem entende, suave ou rispidamente - não importa. À sua volta todos te observam. Rostos taciturnos, olhares críticos e alguns sorrisos gozadores. Não dê atenção a eles, feche os olhos devagar e escape da realidade que dia após dia você mesmo se submete a viver. Toque novamente. Agora veja, se você sentir – sentir na sua forma mais pura de ser - já é música. Certas vezes os homens destroem a beleza do abstrato ao tentar concretizá-lo. Eu destrui a beleza das palavras ao tentar disciplinar esse ser indisciplinável que sou. Sinto tanto e, tantas vezes, busco colocar no papel. Nada me satisfaz. Quero contar-lhe toda a verdade que há dentro de mim, porém, zombo de mim mesma quando penso em fazê-lo. Acordo todos os dias e pergunto-me se sou louca em sonhar o mesmo sonho, noite após noite, noite após noite. Tenho medo de que o que digo ter sido real seja tão irreal quanto meus desejos mais impossíveis e insanos. Sei que você nega o que passou e foge disso toda vez que olha nos meus olhos e sorri. Não é mais o mesmo sorriso. Mas basta perguntar ao pôr-do-sol e ele lhe dirá: você sentiu, não negue mais. As árvores te denunciam, o ar te denuncia e até mesmo as nuvens cinzentas te denunciam. Eu não te denuncio, mas brinco com meus pensamentos, sonhando acordada com aquelas lembranças. Depois paro. Respiro fundo e observo as paredes brancas do meu quarto. Quando canso de observá-las, deixo de ser quem sou e as lembranças se vão. Mais cedo ou mais tarde sei que retornam. Preciso contar-lhes: há um lugar bem longe daqui em que as florestas são azuis e os mares vermelhos. Nesse lugar há um velho que cultiva flores de plástico. Um dia, eu e o velho jogávamos conversa fora, quando, sem motivo algum, ele me contou o seguinte: há uma flor em meu jardim de concreto, a mais bela de todas; suas pétalas brancas brincam de se pintarem com todas as cores do arco-íris quando o sol se põe. E acrescentou que não existe um só ser vivo no mundo capaz de ver além dele mesmo. Paro. Seu rosto vermelho chora lágrimas de emoção. As andorinhas que viajam de um lado para o outro me disseram que o velho é cego. Pouco me importa, eu gosto de acreditar na história da flor. Quantas vezes também não fui cega e te transformei em perfeição, ser inacreditavelmente imperfeito?Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-19216712609320746622010-08-09T21:52:00.000-03:002010-08-09T21:52:35.264-03:00A lima da pérsiaAcontece que um dia, sem fome, sem vontade, sem nada, me surgiu a ideia de comer uma lima da pérsia. Assim sendo, abri a segunda gaveta da cozinha em busca de uma faca que fosse afiada o suficiente para que a tarefa de descascar uma lima se tornasse, no mínimo, tolerável. Quando enfim encontrei a de meu agrado fui, em movimentos circulares, descascando devagar sua pele lisinha. Meus dedos apertavam firmemente seu corpinho rechonchudo, enquanto as fatias da casca seca e amarelada que a protegia iam caindo desgraçadamente sobre a toalha. Enfim, só restou-se aquela camada branca da fruta, aquela pele macia que tão graciosamente a envolve, última defesa da polpa que descansa em ingênua segurança. Pobre lima da pérsia! Eu perdida em tolas divagações humanas, mal me dava conta de que desvendava seu segredo mais íntimo. Meus dedos faziam seu corpo rolar de um lado para o outro, de um lado para o outro. Subitamente, porém, eu parava, arrancando sua pele branca com as minhas unhas afiadas. Meus pensamentos voavam longe, bem longe dali. De repente me cansei, peguei a faca e parti a pobre fruta no meio. Ah se ela pudesse gritar! Provavelmente agora eu estaria ensurdecida, tamanho seriam suas súplicas e lamentos. Arranquei uma a uma suas sementinhas miúdas e meti um pedaço na boca. Foi então que meus pensamentos voltaram-se para ela. Olhei para a lima com atenção, nunca antes havia reparado como era bonita. Toda feita de fiapinhos recheados de água doce com perfume de flor. Passei a brincar de desfazer aqueles gominhos. E pensava: soltem-se dos seus irmãos! Os segundos pareciam horas enquanto eu me entretinha na minha inconsciente e sádica diversão. Então, comi mais um pedaço. Aí fui comendo; mais um, mais um e ainda outro. Quando me dei conta já havia comido a lima todinha. Eu tinha comido uma vida. Uma vida toda. Meu corpo inteiro começou a tremer, meu estômago dava voltas e voltas. Era vida destruindo vida. Senti uma dor aguda, súbita vontade de pôr tudo para fora. Aquela foi a primeira vez que senti nojo de viver.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-61160402539340703712010-07-27T09:44:00.000-03:002010-07-27T09:44:36.535-03:00Entre o mar e tortas de limãoJá era de manhã. Cedo demais, tarde demais.. o que importava? As coisas iam e voltavam, iam e voltavam - ondas. O ritmo constante-inconstante seriam talvez as tempestades de areia que bagunçavam nossos cabelos. Mais tarde era a praia. Escutei-a dizendo: pense numa torta de limão. E assim se fez. Todos aqueles sentimentos contidos traduziam-se apenas numa simples torta de limão. Meu eu consciente estava sendo controlado pelo meu inconsciente e tudo se resumia em... Já chega. A verdade é que eu estava mais preocupada em sentir como o barulho do mar e os grãos de areia que roçavam meus pés embalavam todos os meus sentimentos confusos do que em realmente tentar entender suas palavras. O que se fazia era a tempestade de areia - ritmo inconstante. O que se fazia era mais uma vez eu - ser incompreendido buscando compreender. O que se fazia era a dúvida, a angústia, a busca incontrolável de algo que nunca iria chegar. Eu não entendia, mas aceitava. Acabou; agora espere. As coisas aos poucos vão se resolver, para depois tudo recomeçar de novo e de novo e de novo. Era assim que deveria ser mesmo, a gente envelhecia, mas ainda construía castelos de areia.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-52454484216115008072010-06-10T22:16:00.004-03:002010-06-11T15:47:02.003-03:00Curto diálogo com uma moscaCerta noite estava eu, distraidamente tomando banho, quando reparo em um pontinho preto que nunca tinha visto antes na minha parede. Devido à minha miopia, não percebi de imediato, mas, ao me aproximar um pouco mais, vi o que era o tal do pontinho: uma mosquinha repugnante me encarava.<br />
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Uma onda de repulsa percorreu pelo meu corpo. Eu a encarei com desprezo e estava pronta para matá-la quando, de repente, ouço uma vozinha fina vinda da parede:<br />
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- Você não tem medo de que em outras vidas a gente possa se encontrar novamente e eu me vingue de você?<br />
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- Hãn? Do que você está falando? Quer dizer: você está falando?!<br />
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- Preste atenção - ela respondeu, evidentemente ignorando meu espanto. - Imagine que, sei lá, eu reencarne como um psicopata e volte aqui para vingar minha morte..<br />
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Que engraçado, eu tinha uma mosca na minha parede e ela tentava me intimidar.<br />
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- Mosca, mosquinha... eu não acredito em reencarnação - respondi, rindo sarcasticamente.<br />
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Ela retrucou:<br />
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- Que seja então, aposto que quando você morrer, Deus vai te castigar. Ele foi bem claro quando mandou colocar nos dez mandamentos: "Não matarás.". Aí enquanto eu estiver feliz pulando sobre nuvens no Paraíso, você estará sofrendo no Inferno por ter pecado.<br />
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Cada vez essa conversa tornava-se mais hilária. Agora eu tinha uma mosca que, além de estar na minha parede, interrompendo meu banho e procurando me intimidar, ainda tentava falar sobre Deus. Eu repliquei:<br />
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- Para sua informação, mosca, eu sou atéia, viu?<br />
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Ela me encarou por alguns segundos.<br />
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- Humanos, sempre achando que sabem de tudo... - debochou - Tudo bem, então vá em frente e me mate.<br />
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- Agora você não se importa mais com a morte? - perguntei.<br />
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- Por que eu me importaria? - ela respondeu pacificamente - Afinal, sou uma mosca. Minha vida baseia-se em voar tolamente de uma parede para outra, de uma para outra, de uma para outra...<br />
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- Mosca.. - eu a interrompi - Mosca, eu entendi. Mas você não teme que, após a morte, não haja nada, nem sequer suas feias asas cinza para que você possa voar?<br />
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- Sinceramente, não. - ela me olhou pensativa - Eu sou somente uma mosca, um animal irracional, lembra?<br />
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- Ah é? Então se você é um animal irracional eu estou conversando com quem? <br />
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- Acho que sozinha. - tinha os olhos tristes - sinto muito.<br />
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Quando me dei conta da minha insanidade, não pensei duas vezes, peguei a saboneteira e esmaguei aquela criaturinha sem dó contra a parede. Posso até ser insana, mas não vou suportar que moscas tenham compaixão por mim. Como odeio moscas...Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-62005344009663103662010-05-27T17:23:00.003-03:002010-06-11T22:26:14.349-03:00Em busca de algo maiorEnquanto a estrada parecia interminável, o vidro embaçado embalava meus pensamentos e, pacificamente, parecia acolhê-los. Silenciosa, eu o agradecia, pois já me encontrava demasiadamente exausta deles. Meus pensamentos não pareciam preocupar-se nem um pouco com minha saúde e, quando os dispensei, rapidamente partiram, buscando transformar-se em minúsculas gotículas de chuva e voar em círculos com o vento, procurando descansar sobre a pele fria de um velho senhor que passava pedalando sua bicicleta. Meus olhos intrigados pareciam divertir-se muito mais com as árvores de folhas vermelhas do que preocupar-se em perdê-los em virtude de uma inesperada tempestade. De repente, um cão passou correndo; seus longos pelos aqueceram todo o meu pensamento-chuva e eu sorri, desejando mais que tudo ser como aquele simples animal. Talvez ele sentisse fome, é bem verdade, mas eu estava certa de que com o frio ele já havia se acostumado. Para mim, ele parecia extasiante e... livre. Naquele momento, me compreendi. Atrás do atrás do pensamento, ocultava-se a necessidade de viver - <b>livre</b>. Como era teimoso esse tal desejo de liberdade! O dia em que, sem ser convidado, decidia aparecer, demorava tanto a ir embora. Deu-se, então, com mais intensidade quando meus olhos passaram das árvores vermelhas ao enorme vale que se abria bem abaixo de nós. O vento me provocava e, naquele instante, percebi que ele estava intrinsecamente ligado com a liberdade. Sussurrava, pedindo-me para sair e dançar. Pobre vento! Não percebia que isso me era impossível. Com a dança, viria a morte e, certamente, não era isso que eu buscava. Buscava somente aquilo que, dia a dia, me restringiam: meu livre arbítrio. Em certa aula de filosofia, aprendi que, para pensadores medievais, de livre ele não tinha nada. Porém, eu sabia que ele existia, pois me chamava, me chamava desesperadamente. Suplicava para que eu o encontrasse. Mas eu estava longe. O sonho estava chegando ao final, a chuva, aos poucos, deixava de cair e, novamente, o sol aparecia. Então, meus pensamentos retornaram, um a um, para a minha cabeça. Cedo demais, voltei a tornar-me um protótipo de mim.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-80243505661329263162010-05-11T22:03:00.005-03:002010-05-19T15:15:25.969-03:00Tudo estava escuro e turvo. Havia música preenchendo todo o espaço com um ritmo constante. Variavam-se os acordes de guitarra, isto é certo, mas os ouvidos habituados descansavam de prestar atenção. Gargalhadas altas, exageradas, muitas. Essas brincavam de colorir o espaço com variados tons de cor de rosa. A sua risada obviamente era a mais chamativa e parecia provocar-me, ludibriando a minha com evidência malícia. Estávamos todos nós ali, banhados de álcool e êxtase. Só um dos meus eus parecia compreender, os outros aceitavam passivos, demasiadamente embriagados, talvez. Jamais, aos meus olhos, você teria ostentado tamanha perfeição, exceto, porém, àquele dia em que caminhávamos, a sós, pela larga avenida. As primeiras vezes sempre ficam guardadas na nossa memória como as mais surpreendentes. Aquele dia, lembro-me claramente, o vento gelado bagunçava meus cabelos e sua extrema beleza peculiar cegava-me os olhos, foi uma primeira vez. Foi esta que me fez duvidar de tudo o que eu era ou havia sido, confundiu aonde antes reinava a ordem, fez eu ganhar novos olhos, me descobrir mais de mim. Éramos loucos e queimávamos nossos vazios com a bebida. Era perigoso estar à mercê de nossos desejos mais íntimos e sensações, envolvidos no agora, no real. Já não havia mais tanto espaço para os sonhos. Ingênuos, ríamos de nós mesmos e usávamos dos mais antigos jogos para nos distrair. Fosse verdade ou só fruto da minha imaginação, você parecia me provocar. De repente, nos encontrávamos perto demais, sua face roçando a minha, seu riso perto demais dos meus ouvidos, suas mãos me tocando. Cada toque seu era como consumir uma droga altamente estimulante. O mundo real havia ficado tão distante, a música há muito deixava de existir, as outras gargalhadas silenciavam-se pouco a pouco. O ambiente agora era um grande borrão negro e você era o único ser que permanecia, nítido, real. Eu te puxei pela mão. Nos primeiros instantes você pareceu hesitar, depois me seguiu, cego. Para onde eu estava indo? Não sabia. Uma única réstia de consciência piscava fraca, longe, mas eu podia enxergar bem o que ela dizia: longe dos olhares dos outros. E caminhávamos sérios, já não havia mais risadas. Você compreendia que estávamos tomados pelo desejo de sentir. Abri uma porta, estava escuro como o breu. Os outros, embriagados, nem notaram nossa ausência. Entramos e, naquele instante, qualquer destino que um dia fora traçado para mim, mudou drasticamente.<br />
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Ps: Influências negativas de Álvares de Azevedo e uma tarde sem nada para fazer.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-69791427461569571892010-04-24T20:36:00.012-03:002010-04-24T21:21:42.507-03:00Aos meus iguais, minhas lágrimasPor que matam os peixes?<br />
Na angústia do nada – eu sinto.<br />
Sinto seu cheiro pútrido de coisa morta que não quer morrer.<br />
Seus corpinhos atirados na carcaça de um barco qualquer, onde homens trabalham, <br />
Indiferentes.<br />
Na desesperança de meus olhos úmidos, há o ódio daqueles que suas vidas privaram.<br />
Com que direito?<br />
Com que direito tiro-lhes a vida para tirar-me a fome?<br />
Silenciosos, os peixes não sobrevivem da minha piedade.<br />
Entre seus iguais, fluem e vivem da ausência.<br />
Eles não sabem,<br />
mas ainda posso sentir o cheiro de suas entranhas derretendo em óleo quente.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-35500949420480210182010-04-24T12:44:00.002-03:002010-04-24T21:22:35.927-03:00O marEm certo navio velejava um velho marinheiro. Bigodudo e teimoso, jamais dispensava seu chapeuzinho azul e suas canções tristonhas. Vivia só, à mercê do mar. De vez em quando, perdia-se em lembranças terrenas. Boas sim, mas que enquanto duraram não o haviam satisfeito. Quando mais jovem, ao descobrir o mar, decidiu que seria este seu único destino. Sua família insistia –“Fique conosco” e sua irmãzinha de olhos chorosos suplicava – “Seja racional irmão, que vida você levará perdido, sozinho, em alto mar?”. Sonhador, ele não os dava ouvidos, o mar já o havia cegado, seria este seu caminho. Que pudesse ter mudado de idéia, escolhido outro destino, mas não, pois sabia que, assim feito, mais tarde arrependeria-se. Um tempo depois, tomou sua decisão. Levando seus poucos pertences comprou um pequeno barco e, assim, iniciou sua jornada. Por duas vezes, em conseqüência de uma forte tempestade, foi lançado de volta a terra, contudo, retornou ao mar. Por duas vezes perguntou-se se o destino não estaria tentando destruí-lo aos poucos ou se, de fato, isso não passasse de um aviso de sua família. O marinheiro solitário perguntava-se – “O que o levava a tomar as decisões que tomava? Porque não teria escolhido uma vida menos arriscada?” Ele não sabia, mas não achava que não saber implicava em desistir. Talvez fosse só um marinheiro tolo a assobiar músicas tristonhas. Um tolo à mercê do mar.<br />
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Para Stephanie, que me ensinou a pensar na vida metaforicamente <3Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-75147797489082291352010-04-09T18:58:00.002-03:002010-04-24T12:48:51.373-03:00DrogasUm vento gelado batia em seus cabelos longos e suas roupas certamente tiradas de uma revista de moda dos anos 80. Os pensamentos vagavam em sua mente como bolhas, em uma fração de segundos estouravam umas e criavam-se outras logo em seguida. Como num filme rodando rápido, rápido demais, ela balançava seus cabelos à medida que a música tocava. Tocava dentro de si, cada vez mais alta. Tão alta que ela sentia como se seu cérebro fosse explodir a qualquer momento. Diversos instrumentos gemiam e arranhavam e, ao fundo, uma repetitiva e incansável batida eletrônica. Sua mente girava e cada parte do seu corpo tremia, em uma mistura completamente divergente de medo, êxtase e depressão. Após inabaláveis segundos que mais pareceram horas, ela percebeu seu real desejo. Necessitava gritar, colocar para fora tudo. Toda aquela agonia que foram os últimos anos de sua vida. Queria vomitar a inútil esperança que lutava em permanecer dentro de si, como se, por todo aquele tempo, ela só a tivesse enganado. De repente, uma lágrima rolou. Seu rosto ardeu como fogo em brasa e, erroneamente satisfeita, ela percebeu que aquilo era o fim. A música parou. Então, como se tivesse levado um soco, todo seu corpo foi jogado ao chão. Caiu estatelada, no chão frio e úmido, porém, inesperadamente ele a acolheu, como se permitisse uma sucessão de lágrimas que afinal viriam. Pela primeira vez em oito meses, ela podia chorar novamente.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6294172102510051357.post-37364320404122000402010-04-07T20:49:00.000-03:002010-04-07T20:49:51.808-03:00silêncioAs palavras estão em conflito comigo nesses últimos tempos. Nada que escrevo parece, nem o mínimo, aceitável. A única coisa que desejo é aumentar o som no último volume - um solo extasiante de baixo - até eu ensurdecer. Aí então eu experimentarei o silêncio infinito e quando essa hora chegar, você pode acabar comigo, pois estarei exausta de viver essa vida que finjo ser minha. Sinto-me disposta a aceitar qualquer desafio que me apresentarem, pois estou necessitada. Loucamente necessitada de um objetivo, qualquer que seja ele. Passei a qualificar todas as coisas em "leves" e "pesadas" desde que li Milan Kundera (uma espécie de transtorno obsessivo compulsivo) e hoje me sinto pesada, tão pesada, como se a qualquer momento fosse cair e nunca mais conseguir me levantar. Minha garganta está seca. Preciso abraçar ventos gelados para sentir a dor aguda que é ser - ou deixar de ser. São nesses momentos que penso que seria até legal crer em Deus, e me agarrar a ele em meus momentos de conflito, não às minhas frias ilusões.Unknownnoreply@blogger.com0